Para uma amiga que "encucou"

Amiga,

Bom dia.

Depois da tormenta do "dasaparecimento do site" parece que tudo se acalmou e para melhor. Boas notícias, espero.

Desculpe se lhe "encuquei", mas a minha obra não é autobiográfica. Uso a palavra como instrumento de trabalho e invento histórias, coloco máscaras e represento quando escrevo. Assim sou vento, sou roda, sou bola, sou pedra, sou homem, sou mulher, sou criança, sou dinossauro, sou tudo e sou poesia. Devido a escrever também para teatro, incorporo personagens e digo o que elas pensam. Pouco falo de mim quando escrevo, apesar de, na maioria das vezes, usar a primeira pessoa e sempre assinar o meu nome embaixo, mesmo quando uso imagens, termos e gênero femininos. Isso é ser Chico Buarque, como você sugere?*risos* Acho que muitos autores já fizeram isso antes. Geralmente não perco tempo em me comparar com outros autores, acho que para uma obra ser original ela tem que ser única e tem que mostrar a sua individualidade. Quando o site voltar ao ar, espero continuar pesquisando sua obra. As poucas coisas suas que li achei visceral, honesta, transparente e sobretudo sufocante. Gosto de textos que mexem com o interior e derrubam mitos e os seus transmitem isso. Onde mais poderia encontrar seus trabalhos na net?

Por agora, deixo-a com um abraço e uns versos de Manoel de Barros que vem muito a calhar:

"No escrever o menino viu

que era capaz de ser

noviça, monge ou mendigo

ao mesmo tempo."

(Manoel de Barros - O menino que carregava água na peneira)

Bjs

F.