SOU CHUVA

Hoje sou tempestade, trovão, raios e dia nublado, ouça-me sobre tua janela, veja-me cortando teu céu com uma claridade infinita, ouça o tremor que provoco sobre ti, e tenha medo. Tenha medo do dilúvio que trago sobre tua morada, tenha medo da forma, minha indignação, da minha inconstância...

Hoje sou chuva que molha teus pecados, sou raio que clareia teu ser e sou trovão, ventania que te afasta de mim e sereno que te persegue dia após dia.

Escorri por completo sobre as ruas, e lavei tudo que por mim passou, lavei os pecados de esquinas, passei entre brechas de casas corrompidas, lavei corpos e escorri junto ao sangue daquele corpo não identificado sobre o asfalto.

Trouxe comigo a ira de um Deus que chorou de indignação, devastei tudo que por mim passou e reduzi a pó tudo que se acreditava eterno.

Minha forma completa o vazio de almas, mata o fogo da culpa e anseio do mais, e sacia a sede da liberdade dum dia nublado.

Esconda-te de mim sol maldito!

Não aprisiona minha vontade ser livre, deixa-me escorrer e devastar este mundo até que não sobre um grão de areia onde se possa pisar.

Deixa eu ser azul por completo e fazer deste mundo um azul infinito...

Permita que eu sacie minha sede de justiça, de vingança sobre tudo que está abaixo de mim. Desejo ser dono, ser Deus de tudo! E sobre todas as coisas fazer parte por completo!

Serás sobre mim um corpo que flutua, e de ti serei o sufoco e anseio pelo ar que te falta.

Desejo sentir em mim tua vida esvair pouco a pouco, apossar-me de tua alma e fazer inundar-me por completo.

E enquanto o céu não abre, sou chuva em ti, e faço parte deste mundo, metade azul água, e outra parte vermelho sangue...

Thiago Leão
Enviado por Thiago Leão em 29/01/2013
Reeditado em 12/12/2014
Código do texto: T4111594
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.