Não volte!

Hoje a saudade bateu. Que frase clichê de se usar, afinal, quem nunca sentiu um aperto enorme no peito desejando lá do fundo da alma, o retorno daquela pessoa? É como aquela velha história que nossos avós contam sobre o “amor”, disseram - me que o tempo traz a pessoa certa, você deve esperar quase uma vida para encontrar a alma gêmea, e em hipótese alguma deve se preocupar ou se apressar sobre os delírios do destino. Sentada sobre uma pequena mantinha que minha avó confeccionou, eu juntamente com meus pais escutava atentamente o que “os velhos” tinham a me dizer, eram mais experientes. Aquela chama ardente rasgando a lenha nos aquecia e quando acima eu fitava, olhava os casais, mãos dadas, paixão ascendente. –Mamãe, eu também quero um amor. No fundo daquele baú eu retirava fotos, presentes, cartas, cartões, rascunhos e velhas lembranças.

Mas hoje bateu aquela saudade. Tenho conhecimento desse meu cérebro retrógrado que trava guerras com o coração, afinal, usar o “clichê” é um truque: Caminha mexendo os galhos com as mãos, fazendo – me relembrar daquilo que foi bom, daquilo que eu jamais havia sentido por alguém, daquilo que eu chamei de amor sem ao menos ser. E depois faz questão de correr e devastar o “ruim”, empurrando todo o peso da culpa sobre minhas costas, relembrando do seu olhar de ódio em um rosto tão lindo, as brigas, os choros, os desejos, as reconciliações. E o coração? O coração foi beber um álcool fumegante, aquele que desce e te desnorteia. Foi dançar uma música acompanhada de um cara qualquer, nem era seu gênero, só estava na carência. Foi fumar um cigarro vagabundo e soprar a fumaça pelas têmporas, não era engraçado, mas adorou saber a sensação do que aparentemente era errado. Hoje já nem se sabe.

Sabe do que bateu as tais saudades? De você. Isso mesmo, do teu nome, sobrenome, do teu corpo, da tua altura, do teu peso, do teu cabelo, dos teus olhos castanhos, das tuas sobrancelhas grossas e ferozes, do teu nariz fininho, dos teus lábios carnudos, dos teus dentes retinhos, exceto um, da tua boca nos meus dedos, da tua mão esquerda entrelaçada na minha direita, do meu corpo sobre o teu, das tuas mãos na minha cintura, do teus beijos na minha testa, do nosso beijinho de esquimó, da tua voz, da tua risada, do teu jeito meigo, bobo e idiota, do teu “eu”, do meu eu que habitava em ti. Dos beijos eu falo por último, eles ainda estão escorrendo pela minha boca, é difícil de deglutir, digerir então, estômago rejeita e faz vomitar. Que recíproco, literalmente vomitar é algo ruim que quase te deixa em estado crítico em se segurar numa quebradiça ou despencar no chão e morrer de amor.

Hoje ainda nos vemos, ainda nos cumprimentamos com aquele beijo no rosto, ainda conversamos quando há uma brecha entre as conversas de nossos amigos, ainda olhamos nos olhos, rimos e desviamos o olhar. Porém, não há mais mensagens de texto, chamadas no célular, janelinhas subindo no Facebook, ou aquela minha espera depois das 21:30 para conversar com você, assim que voltava do trabalho. Hoje não há mais beijo, não há mais ciúmes, não há mais “eu te amo minha princesinha, minha bebezinha, minha linda, minha gatinha”. Eu não sou mais sua, você não é mais meu. Teu fim foi decretado e eu estou apenas obedecendo, usando das armas que possuo para me defender, jamais te atingir. Não importa se vai ser feliz nos braços de outra, por favor, fique bem longe de mim, você já me estragou o suficiente por uma vida. O copo esvaziou, o cigarro apagou, e o amor? Jamais desanimou.

Priscila Czysz
Enviado por Priscila Czysz em 16/02/2013
Código do texto: T4142590
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