Carta para reler

Querida filha, por mais pedante que possa parecer, ou pelo indulto máximo de um clichê, escrevo esta carta de orientação para o futuro. Tenho certeza que você a lerá por muitas vezes, e a cada releitura um significado novo surgirá.

Bom, tenho que escolher um fio de linha para começar a tecer a longa colcha de retalhos, retalhos biográficos, retalhos provenientes de uma nutrição literária e da furta-cor da curiosidade.

Vamos!

Algum momento a ilusão de saber alguma coisa irá bater em sua porta. E você vai abrir. Antes de se contaminar com o veneno da vaidade intelectual, tente responder essa simples pergunta: “O que é o tempo?”

Não se preocupe com as respostas, concentre-se nas perguntas. “O que é o tempo?” Um dia me flagrei pensando nisso. Essa minha introspecção é resultado de um sistema falho, porém ativo. Que não pese sobre mim, nem sobre ninguém de nossa família a ignorância da existência do ácido gama-aminobutírico. Que ninguém se arraste paradoxalmente numa trajetória utópica de remissão. E falando nisso, aprenda o que é idiossincrasia, sem restringir-se aos conceitos semânticos.

Envolva seus sentidos em um aprendizado funcional, porque seu amadurecimento dependerá muito disso. Muito freqüentemente tenho visto as torres substituírem os reis.

Habilidade social é muito bem-vinda e a maquiagem é para todos, e com funções parácrinas e autocrinas.

Em hipótese alguma aceite de pronto qualquer argumento sem o crivo minucioso de sua consciência, que vai ser a cada dia, mais elaborada. Pesquise e entenda o poder do convencimento. Se tiver dúvida entre poder e potência, sugiro que escolha potência.

Tenha sempre garantias de sua assertividade, e que faça bom uso das experiências de coragem ofuscante, e não se esqueça dos caminhos em que o medo lhe serviu de iluminação.

Com imenso amor,

Seu pai.

Henrique Menezes
Enviado por Henrique Menezes em 20/02/2013
Código do texto: T4150309
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