ADEUS, SOPHIA, ADEUS

O entardecer trouxe uma brisa leve... Recebi a notícia pelo telefone, ao ouvir a voz embargada da Rosane, minha alma se encolheu... A brisa que parecia trazer a lua tinha te levado de nós...

“Sophia se foi” Disse Rosane num fio de voz e transformou tua presença numa lacuna de silêncios...

Pra onde foi tua voz me dizendo pra tomar juízo? Onde está o som encantado do teu riso? Por que o vento me responde balançando as folhas das árvores, falando a língua da saudade?

Meu cérebro busca argumentações humanas... “Ela descansou!”, “ Sophia agora está bem.” Mas meu coração se embirra como faz uma criança quando vê a mãe indo trabalhar. Sei que um dia nos reencontraremos e que a vida há de transformar toda esta dor num suspiro de saudade... Mas o que fazer agora? Neste momento em que me deparo com tua ausência?

Lembro de ti quando formávamos nós. Nós quatro, tu, eu, e elas (Selma e Zilanda). Éramos o quarteto noturno do Pedro Alves. Selma cuidando da comida, eu das crianças do pró-jovem, a Zilanda das chaves e tu aplicada nas tarefas da secretaria. Pena que tudo agora é pretérito: nossas conversas, nossos risos, nossos sutis comentários sobre a vida alheia... Tudo era tão bom justamente porque não nos dávamos conta da passagem do tempo...

Acho que nenhum de nós imaginou que algum dia um de nós partiria...

Agora, aqui, diante desta tela iluminada passo a enxergar os detalhes do passado... A tua maneira de me dizer como usar os produtos da Natura, a tua preocupação com o casamento da tua filha e a sutil nevoa de tristeza que aparecia em teus olhos quando falavas de tua saúde.

Agora, os detalhes tomam a forma de lição...

A vida é um instante, um sopro, como diz o salmista e que a única coisa que realmente tem valor é o poder partilhar a vida, é aprender a encarar o outro como sinal de Deus e não como o inferno pregado por Sartre... O existencialismo pode até ser interessante, mas não explica o que sinto, pode até me dar argumentos para o que penso, mas não preenche esta dor de perder uma amiga...

Em meio a toda esta angustia uma coisa tenho certeza, te despedistes de todos lá do Pedro... Tia Armênia te visitou inúmeras vezes, as tias Silvinha, Bernadeth, Solange, Carmem, Marinete e Zilanda foram te ver ontem. Ainda brinquei com a Bernadeth, dizendo que queria que tu voltasse logo porque precisava comprar perfumes...

A Rosane foi hoje, mas tu já tinhas adormecido...

Amanhã toda a família Pedro estará reunida não para dizer adeus, mas pra falar o quanto tu eras querida por todos nós. ...

Beijos, preciso sair pra ver a lua...

Paulo de Andrade.