CARTA COLADA NO ESPELHO AO DESTINO TORTO

CARTA COLADA NO ESPELHO AO DESTINO TORTO

Jacarei, 02 de março de 2012.

Caro Destino Torto. Eu não sei para qual endereço mandar esta carta, não sei se mando para a maternidade onde nasci ou para a cama onde fui gerado.

Caro Destino Torto, eu olhando pela vidraça observando a minha própria imagem sobrepondo a sua imagem, vendo a criança de infância perdida e o homem de infância achada. Percebo que o senhor não foi nem meu amigo e nem meu inimigo, pois somos consequência. O senhor foi apenas “torto” em sua natureza, pois sendo o senhor maior que a minha vontade, a sua vontade se perdeu no horizonte das nossas vontades e me restou apenas os relampejos dos momentos de seus atos que foram e continuam sendo tão “tortos” em minha caminhada. Não sei em que ponto eu me encontro da caminhada, não sei se sou o Alfa ou se sou o Omega.

Hoje me preparando para sair penso nas pessoas que eu conheci, ou melhor, nas pessoas que eu jamais conheci, pois ninguém nunca me conheceu, ninguém passou a dor que passei, assim como jamais passarei pela dor de ninguém. Querido Destino Torto somos seres tão solitários num deserto de trilhões de galáxias, de trilhões de outros seres solitários que acham que ter uma relação os deixará menos solitários.

Imagino quando a Bela Dama de Negro vir me buscar se eu estarei em pé vendo o por do sol como sempre quis partir, imagino a Dama de Negro cantando uma canção triste, pois infelizmente ela terá que dar as suas lindas mãos brancas e geladas para mim para que eu cumpra a sua vontade Destino Torto, pois muitas e muitas vezes desde a minha infância roubada eu já almejei os braços e o beijo da Dama de Negro e ela sempre me rejeitou e pela vontade do senhor ela terá que me aceitar.

Caro Destino Torto. Eu deixarei esta carta no espelho, pois quero que quando o senhor a pegue, o senhor lembre-se de como você brincou com a minha vida, como o senhor trocou a sequencia de minha cadeia genética e o quanto o senhor me fez sofrer, mas tenha certeza meu companheiro sombrio que prego no espelho esta carta, mas prego-a penteando meus cabelos, pois para a rua sairei e mesmo triste tentarei ser feliz...

André Zanarella 02-03-2012

André Zanarella
Enviado por André Zanarella em 21/02/2013
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