Para Você, com amor...

Olá, anjo

Antes de mais nada, esta não é uma carta de lamentos (poderia ser, como a maioria é), nem uma forma de expor sentimentos desavisados que se infiltram em nós e nem percebemos. Trata-se de colocações pertinentes, ambíguas até, como o abstrato nos permite fazer em certas situações.

Se me perguntar, lembro de cada momento a seu lado. Poderia, inclusive, citá-los, um a um, mas esta também não é a intenção desta carta. Estou começando este texto sem saber ao certo qual o motivo de escrevê-lo, mas espero chegar ao fim dele com a certeza que me fiz entender.

Dizem por ai que toda história tem seu fim. Acho também. Começamos algo pensando em terminá-lo, sem dúvida, e quando não concretizamos o pensado nos sentimos pesarosos, algo decepcionados, mas o tempo e as experiências vividas nos dão conta de que na vida há tempo para tudo, inclusive para se perder. O senso comum nos diz que o amor é pesado demais para ser carregado e que pode ser bonito como um campo de acácias e feio como uma cidade em ritmo. Acho o amor bonito em qualquer circunstância, não importando qual o sentimento envolvido no momento.

Mesmo estando longe, acho meu amor por você algo belo. É belo, sim, porque é sublime, indiferente, puro e, confesso, um pouco pesado nesse momento. Mas esse peso nada mais é do que a mostra de sua realidade: ele é verdadeiro. Não quero despejar lamúrias em você, não estou disposto a dizer-te que estou triste, com aquela dor no peito característica. Quero te dizer que não importa o quanto estamos longe, não importa o momento, o que importa é que o amor não morreu, e não vai morrer simplesmente porque eu quero que assim seja.

Quando me disse que o tempo cura tudo, eu visualizei uma medida de tempo inexata, talvez até errônea, porque não sei por quanto tempo vou te amar como amo. Não há uma maneira segura de medir isso. O que há, sim, é um sinal, que brilha lá na frente, como a luz no fim do túnel, mas que podemos atingir hoje, amanhã, ano que vem...

Eu lhe disse várias vezes que você havia sido o melhor acontecimento da minha vida. Realmente foi, e continua sendo. Penso que o conceito de melhor pode ser visto de várias formas, e que o fato de você não me querer mostra talvez que eu precise melhorar minha visão de melhor. Os erros que eu cometi (me desculpe por eles) foram guiados pela sensação de me tornar o ideal para você, algo como ser o super herói, me esquecendo que o amor impede o caminho da racionalidade e o deixa cercado de armadilhas.

Este talvez seja o ponto chave de tudo: as armadilhas.

Sendo irracional como o amor nos deixa, acabei por esquecer-me que tudo tem seu tempo, e que talvez (hoje sei que sim) nossos tempos eram diferentes.

Revisando tudo que aconteceu, faço mea-culpa por ter me deixado levar pela empolgação do momento, por ter me cegado ao seu modo e seu tempo. Sei que ações como essas são típicas de alguém apaixonado, vedado aos olhos pelo sentimento, mas também sei que são muito representativas por serem puras, dotadas de realismo.

Ainda não estou de cabeça fria para analisar tudo. Muito recente. Apesar de minha racionalidade, ando confuso. Talvez porque ainda não consiga decifrar os caminhos deste labirinto sem fim que é a paixão. Talvez porque eu tenha me perdido neste labirinto, e a saída esteja longe de onde me encontro.

Neste momento são poucas as certezas. Certeza mesmo é que te amo muito, como sempre disse. Certeza tenho de que errei ao olhar apenas o meu tempo. E, talvez, minha maior certeza é que existe uma esperança guardada dentro de mim.

A esperança nos faz sonhar, e pode muitas vezes nos deixar ludibriados. Mas serve ela também como suporte, como algo em que nos agarramos para manter o rumo e para que os belos sentimentos não morram dentro da gente. Meu amor por ti, hoje, soa mais como tormento, mas é ele que me faz sonhar, me faz ter, justamente, esperança. A ambigüidade é a característica maior da paixão. É ela que nos faz caminhar em sentimentos tão opostos, que podem ir da dor, que nos faz resignados, à luta, que nos faz fortes, prontos para não desistir.

Eu não desisti de ti, e não vou. De que adianta você me dizer para não ter esperança se é justamente esse sentimento que me dá força neste momento? Todos os caminhos que enxergo me levam a pensar que tudo pode se arrumar, que tudo pode se acertar. Não tenho muito para onde correr. Eu tenho de me agarrar nisso.

Estou, sim, muito triste. Havia tempos não passava por isso. Interessante é que, mesmo não sendo novidade, a intensidade e a maneira como está acontecendo me parecem novas. Talvez seja a paixão se renovando, a experiência nos pregando mais uma vez aquelas peças que tanto conhecemos, mas que insistimos em ter como novas.

Não quero ser longo nem enjoativo neste texto. Me propus a escrever algo não muito pesado nem pesaroso. Tentei, e acho que consegui.

Só quero que saiba que estou à sua espera. Respeitarei seu tempo, seu espaço. Nossa amizade continua, sem dúvida, e eu continuo apaixonado por ti. Não quero que isso interfira em nada. Quero que seja um motivo a mais para que um dia você possa se abrir e ver tudo que guardei para você.

Um beijo.