A carta que você nunca leu!

Pensei em escrever para você inumeras vezes. Só não estava encontrando palavras para isso ou faltava-me coragem, mas acho que agora estou preparada para te escrever. E respondendo depois de tanto tempo: Você não pode me ajudar, na verdade ninguém pode apenas eu posso. E eu nem tenho certeza de que se quero me ajudar.

Você já deve ter notado que sumi novamente, eu sempre faço isso, normalmente justifico antes. Desta vez não. Eu errei, errei de novo. Fiz “merda” de novo ( me perdoe o uso da palavra). Eu não vou me justificar, não vou me desculpar, não vou dizer que sinto muito, não vou “inventar” desculpas, não vou reclamar. Só me aceite dizer que eu “ desisti de vez”. Sem justificativas, sem explicações, apenas o fato de que eu desisti. Cara, isso me deixa mais leve. Não pense que estou sendo ingrata, eu reconheço o esforço que muitas pessoas fizeram para mim seguir em frente, e isso faz com que eu seja muito grata a elas e eu sempre serei. Mas antes disso eu também preciso me encontrar, porque eu não sei a onde eu estou. E eu preciso disso. Eu preciso me encontrar, ver como posso dar um caminho para o meu “eu”. Achar o meu “canto” onde me sinta em casa. Porque sinceramente eu não onde é este lugar.

Perdi a minha Vó e 2 meses depois minha Tia (isso não é uma desculpa), saber que nunca mais vou poder vê-las me desestruturou. Passei algum tempo querendo morrer também, na verdade essa vontade sempre me acompanhou, mas em nenhum momento ela foi tão forte como é agora. Por outro lado eu nunca senti tanto medo da morte como senti em perder minha Vó. É uma perda insuportável. Minha mãe está tentando ser forte, mas eu sei que não é nada fácil para ela. Acho que eu ficaria super feliz em sentir alguma dor física que fosse tão mais grande quanto a dor que se abriu em mim. Eu realmente queria morrer, eu não tenho medo de morrer, não me assusta em nada não saber para onde vou, se existe ou não algo além do que vivemos. O que realmente me assusta é imaginar que eu possa viver mais do que 80 anos e me der conta que vivi muito pouco de verdade ( no sentido de fazer coisas que valessem a pena e me fizessem feliz).

O que me machuca de verdade é ter a absoluta certeza de que se eu fizer alguma “bobagem” eu vou provocar uma dor imensa na pessoa que eu mais amo; MINHA MÃE. Por que ela sempre disse que suportou a morte do pai, de quatro irmãos, de muitas pessoas que ela amava muito, mas quando teve que enterrar um filho foi como se tivesse enterrado um pedaço dela junto com ele. Eu nunca suportaria a ideia de fazer a minha mãe sofrer, eu nunca me perdoaria. Seria muito cruel com ela. ELA é o motivo de tudo que existe de bom em mim. E tem também os meus irmãos e tenho por eles um amor incondicional, desmedido, imensurável. Tem meus sobrinhos; ELES SÃO A RESPOSTA DAS MINHAS ORAÇÕES. São meus filhos também, porque embora não tenham saído de mim eu participei e muito desde o nascimento até a criação deles. São presentes de DEUS, que talvez olhando para mim notou que eles seriam um motivo de muita alegria para mim e me deu eles de presente.

Perder a minha vó e logo em seguida a minha tia, me arrancou o chão. Nem consegui ir no velório da minha vó, nem no enterro. Ela sempre foi uma pessoa agitada e que vivia correndo sem parar. Acho que seria muito pesado para mim vê-la a li sem nenhum movimento, estática, indiferente. Ela adorava ter a casa cheia, amava ter os filhos, netos, bisnetos, todos juntos. Eu não suportaria. Mas é bem mais do que isso, eu ainda sinto que ela vai estar lá na casa dela, encostada na varada, gritando com os netos, ou simplesmente ali como ela estava nos seus últimos dias. Ou ainda fazendo o que ela fez a vida inteira “cuidando” de todo mundo, cuidando tanto que esquecia de cuidar de si própria. É algo que não consigo aceitar. Que o meu lado racional até entende, mas que não me consola. Queria uma ultima oportunidade, tive tão pouco tempo. Queria tê-la de novo, nem me despedi da ultima vez que a vi, nem a abracei. Mas não se pode voltar no tempo, mudar o que já se foi. E se pudêssemos, quem garante que faríamos diferente? Eu sinto tanto. As pessoas que eu mas amo me abandonam, algumas somem, outras me decepcionam e outras morrem.

Mas, decidi que vou dar outro rumo para minha vida. Não dá para continuar assim, desejando todo dia morrer por não saber a razão de continuar vivendo. E sabendo que existe tantas pessoas por aí que têm tanta sede de vida e que muitas vezes não são tão saudáveis fisicamente como eu sou. Vou seguir outro caminho e dane-se a opinião dos outros. Não faz sentido viver uma vida toda sem se fazer o que você sempre sentiu que devia ser feito e não fez. Desde menina eu sempre tive a certeza de que quando eu crescesse, realizaria dois desejos que me eram e são ainda muito especiais. Desejos que eu sempre acreditei ser muito grandiosos: Primeiro ser professora e segundo mãe.

Eu preciso de alguma forma sair do lugar, sentir que progredi, sem dar 2 passos para frente e 5 para trás, não dá para ser feliz assim. Eu vou tentar ficar bem. Sem pensar no futuro, apenas pensarei no que eu decidi por hoje. Tenho certeza de que você entendera muito bem, acho que sendo a pessoa boa que és, vai querer que eu fique bem aonde eu estiver. E que eu seja feliz também. Por que você sabe né?... que cada pessoa tem a liberdade de escolher o que acredita ser melhor para a sua vida... que a gente pode auxiliar em algumas escolhas e ajudar, mas que no fundo é o outro que sabe qual é o melhor caminho para a sua vida.

Bom, eu te pedi uma vez para não desistir de mim e você me disse que não desistiria, apenas se eu te pedisse. Lembra? Então, eu estou te pedindo para que você desista de mim. E não fique chateada comigo tá? Eu sempre acabo decepcionado as pessoas que acreditam em mim. Me desculpe se eu acabei com alguma expectativa que tinhas sobre mim. Mas talvez eu não tenha acabado com nenhuma. Eu já criei expectativas sobre muitas pessoas e todas elas me decepcionaram. Agora eu apenas espero das pessoas o que elas podem me oferecer, assim eu fico bem. Mas manter expectativas pequenas sobre as pessoas corre-se o risco de elas fazerem coisas pequenas.

Tô divagando né? O fato é que não vou mais voltar atrás. Página virada, e bola pra frente. Sempre vou lembrar com muito carinho de você. Afinal, você foi a segunda pessoa que eu consegui contar o que me feria tanto. Isso faz de você uma pessoa muito importante para mim.

Espero um dia te encontrar novamente você super bem e eu super Jéssica. Jéssica falante, extrovertida, feliz... hum... realizada. Alguma coisa me diz que vai dar tudo certo. Sei lá, eu tenho algo dentro de mim que é pessimista, que no entanto fica me empurrando para cima. Uma metade de mim quer me ver no chão, mas eu estou sempre de pé. Vai ser assim, então. Eu sei que a minha vida vai mudar, talvez seja uma mudança que eu nunca imaginei que aconteceria.

Me desculpe, no entanto eu sinceramente desejo com todas as minhas forças fazer o que estou fazendo hoje. Eu quero ser feliz... eu não quero que a felicidade dos outros me incomode e principalmente a minha, eu não quero viver a minha vida toda desejando dias chuvosos por odiar o sol, pela tristeza que a chuva me provoca ou por achar o sol tão vivo. Eu não quero mais ficar me lamentando ou desejando morrer por não saber o que fazer com a minha vida. Por muito tempo o que eu mais desejei foi ir embora de casa, dessa cidade. Mas acontece que quanto mais tento fugir deste fantasma que está aqui dentro da minha casa, alojado no meu quarto mais presa nele estou. Aqui é o meu lugar e é aqui que eu preciso destruir qualquer medo para depois conseguir vencer lá fora. Isso é claro para mim agora. Aceite assim. Queria manter o contato com você, mas entenderei se não puder ou não querer. Mesmo assim, quero que saiba que eu não desisti do Nobel...

Como escrevi quer o manter contato com você, se for da tua vontade. Eu tenho sim um carinho especial por ti. Me faz lembrar de um lado muito especial em se envolver com gente... o lado de que

é muito bom ter com quem contar.

Me desculpe mais uma vez..

Com muito carinho Jéssica

JÉSSICA ANDRADE
Enviado por JÉSSICA ANDRADE em 30/03/2013
Código do texto: T4215325
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.