O QUE É FEITO DAS CARTAS DE AMOR?

Bom dia, minha querida.

SOMOS O QUE DESEJAMOS

Estamos num processo de conhecimento do outro que, ao mesmo tempo, aflora o auto-conhecimento e observação aprofundada de quem nós já somos, tendo por base aquilo que já fizemos.

Intitulo o meu texto de “Somos o que desejamos”, porque foi essa verdade que a energia etérica me transmitiu. Vou falar um pouco de mim, minha querida. Vou radiografar-me para ti, para que à luz de todas as técnicas e ferramentas, possas saber quem sou, com diagnóstico rigoroso. Nasci numa freguesia muito pobre, inserido numa família de 7 irmãos. Quando nasci, nesse local, não havia qualquer tipo de meio de comunicação: - jornal, revista, rádio e televisão. Aliás, a primeira vez que vi televisão, deveria ter cerca de 12 anos. A primeira vez que saí daquela terra para, foi para ir a uma cidade, que distava a 70 quilómetros da minha aldeia. Tinha 14 anos. Assim, como podes constatar estava afastado do mundo, restrito a uma pequena comunidade, onde imperava muito coisa ruim: - maus tratos de maridos com as mulheres e filhos, fruto da ingestão de muito álcool, muita inveja, desacatos de famílias, muita diferença entre classes sociais, etc. Eu era uma pessoa diferente a viver num espaço/tempo que não tinha nada a ver comigo. Detestava e ainda detesto álcool. Como não bebia era chamado “o poeta” pelo meu pai, irmãos, por gostar de poesia e não beber.

Desde muito novo que me lembro de gostar de ir para a cama cedo e, de barriga para o ar, fazer as minhas meditações e visualizações. Foi, nesse processo, que comecei a desenvolver a força da mente, através desse método. Mesmo sem conhecer o mundo, não ler jornais, revistas, ouvir rádio ou ver televisão, eu visualizei o mundo que queria quando fosse grande. Adorava fazer o filme na minha mente; visualizar tudo até ao mínimo pormenor. Trazia uma memória acumulada que me surpreendia. Foi, nesse tempo, que desejei ser actor, poeta e outras coisas ligadas à cultura e à escrita e ao espectáculo. E, minha querida, tudo o que imaginei em criança foi realizado mais que o dobro, na vida adulta. Tudo aconteceu, da forma que desejei. Foi, nessa altura, que compreendi o que pode ser a força da mente.

Quando fiz a antiga instrução primária, não me deixaram estudar, porque os meus irmãos mais velhos também não tinham ido e eu continuava naquela aldeia, que não me dizia nada, a trabalhar, em criança, com as tarefas duras da agricultura. Entre os 15 e os 16 anos, quando a sexualidade e o amor nos pode bater à porta, foi-me proibido amar. Uma moça da minha idade tinha-se apaixonado por mim. A mãe, um dia, quando a viu junto de mim, deu-lhe uma bofetada à minha frente e depois fechou-a em casa. Ainda hoje eu sinto vergonha daquilo que me aconteceu. Senti, de forma cruel, que não valia nada e que as coisas eram vistas só no universo do ter.

Aos 16 anos fugi da aldeia, sem conhecimento do meu pai, que já estava emigrado num país da Europa e vim para Lisboa. Vim só com a instrução primária, como já disse, e com um medo do tamanho do mundo. Imagina que eu olhava para um autocarro e para um eléctrico e ficava assustado. Um dia perdi-me numa rua, paralela àquela onde fui morar, num quarto alugado. Tal era a desintegração entre eu e a cidade!

O meu primeiro emprego foi num restaurante, colocado na copa, para lavar pratos, panelas e descascar batatas. Para alimentar o meu trabalho de criança, no que concerne à visualização e concretização do futuro, nos intervalos, entre o almoço e o jantar, comecei a ver onde haviam escolas para me instruir mais. O primeiro curso foi o de Dactilografia e, o passo seguinte, comprar uma máquina de escrever, para poder passar à máquina os poemas que ia escrevendo. Depois, fui para um Externato e fazer o Ensino Secundário por Ciclos, ou seja, fazer mais que um ano em cada ano lectivo. Assim, nesse processo, terminei o secundário e entrei na Escola Superior de Teatro e Cinema, depois de ter passado pela rádio, pelos jornais, por grupos de teatro, grupo corais, etc. Eu tinha vindo com essa certeza de vida; eu tinha visualizado isso e tudo estava a acontecer como o previsto. Todas as noites fazia o ponto da situação e programava o dia seguinte, deixando numa mente concentrada, o desejo e a determinação do que queria que me acontecesse no dia seguinte. Que maravilha! O método funcionava. Deus, afinal era grande, e dava-me muitas ferramentas de uma forma gratuita.

Em meados da década de setenta conheci a rapariga que depois veio a ser a minha esposa. Quando a vi, houve uma química tão grande que resultou num lindo e indescritível relação, com 5 anos de namoro e 28 de casamento e só acabou porque a morte a levou para outra Vida. Já casado, continuei neste processo de constante evolução a todos os níveis. Vieram mais duas formações académicas, sempre com uma companheira a torcer por mim e a partilhar muitas alegrias que se alastravam também à existência dos nossos dois filhos que são, sem sombra de dúvida, dois seres que amo muito e que têm um património humano e moral digno de registo.

Na minha casa sempre houve muito consumo de produtos da escrita. Eu e a minha mulher sempre escrevemos e tínhamos um prazer especial de mostrar o que escrevíamos um ao outro, bem como de nos contemplarmo-nos com a oferta de textos nossos, um ao outro, em situações especiais. Gostava muito de ler poesia em voz alta à minha mulher. Quando dava aulas de teatro, expressão corporal ou de voz ela ia sempre comigo para participar. Quando montava um espectáculo também lá estava como actriz. Havia aqui o cuidado de nos tornarmos únicos, num uno, a que tu, minha querida, te referes, porque uma relação amorosa, só pode, só deve ser assim.

Quando a minha mulher partiu desta vida não entrei no fundo do poço porque já tinha essa consciência espiritual que me acompanha, de há alguns anos a esta parte. Esta certeza da vida pós-morte é um suporte a todos os níveis, que nos dão as maiores alegrias; nos suportam o melhor dos sonhos e nos levam a lutar pela plenitude da vida a dois, pois sabemos que só assim nos sentimos completos, porque sabemos que é quase uma obrigação planetária fazê-lo. Sabemos que a união de dois corpos do sexo oposto, pela vida do amor/sexo, tem esta elevação; tem este desejo que nos vem de Deus. E, como temos essa certeza, desejamos que isso nos aconteça novamente....

Beijos, do tamanho do mundo.

Luciano Reis

Luc Reis
Enviado por Luc Reis em 09/05/2013
Código do texto: T4281417
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