Cartas à Caroline III

Minha Carol!

Dizes que não me tinhas imaginado assim, mas também eu nunca pensei que assim me poderia tornar. Serás, pois tu quem mudou? Porque, no fundo, é muito possível não ter sido eu a modificar-me, mas sim os olhos com que me vês; ou terei sido eu? Sim, foi eu, porque te amo, foste tu, porque é a ti que amo. À luz fria e tranquila da razão, tranquila, orgulhosa e impassível, eu tudo olhava, e nada me causava temor, nada me surpreendia; sim, ainda que o fantasma tivesse batido à minha porta, teria agarrado tranquilamente no archote para ir abrir. Mas, vês tu, não foram os fantasmas a quem abri, não a seres pálidos e sem força e de outro mundo, foi a ti, minha Caroline, foi à vida, à juventude, à saúde, à beleza - todas estas coisas são pálidas ante a sua oniabrangente e majestosa beleza, somente contigo elas se tornam alguma coisa! - que vinham ao meu encontro.

O meu braço treme, não consigo manter o archote imóvel, recuo perante ti sem conseguir impedir-me de em ti fixar o olhar e de desejar manter o archote imóvel.

Modifiquei-me, mas por que esta mudança, como se efetuou ela e em que consiste? Ignoro-o, e não conheço termo mais preciso, predicado algum mais rico que aquele que emprego quando, de modo infinitamente enigmático, digo de mim próprio: fui transformado! Tu és a razão da minha transformação.

Dranem
Enviado por Dranem em 03/06/2013
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