Sistemática

A vida é como correr por sobre uma linha reta branca, pintada no chão.

Para algumas pessoas, é só correr. Pra mim, é como se cada vez que eu tirasse um dos pés do chão, eu pulasse um abismo, pisando então por cima dos cumes das montanhas, separadas por imensos buracos sem fim. Eu corro na linha como se minha vida dependesse disso.

Vou passando por lugares e conhecendo pessoas e tantas vidas cruzam minha linha... Mas se vão. Se vão pra bem longe do meu alcance, perdidas no abismo infindável que existe longe da minha linha.

Eu não posso ficar pra ver o que não se é possível ser visto. Nem fico para tentar tocar o que é intocável. Então eu espero. Espero até que você cruze minha linha ou que esteja num dos picos por onde passarei. E quando aparecer, o que eu julgava ser impossível, irreal, se torna vivo mediante meus olhos. E como uma miragem, lá está você.

Agora então só faltam três ou quatro pulos. Não sei afirmar com certeza, pois meus olhos decidiram se lavar para te encontrar e tenho a vista turva.

A um braço de distância, você cai no abismo e eu passo por onde meio segundo atrás você estava de pé, sem nem olhar para a escuridão que te engolia.

Não olho pra trás em partes pelo meu egoísmo sistemático, que não me deixa perder o ritmo das passadas para não levar o mesmo fim que você e em partes por ter medo de não te ver. Não olho pra trás porque, assim, guardo a imagem que contemplei durante algum tempo e que não mudará nas minhas lembranças. Continuará intacta, contraposta a você.

Lorena Trevisanuto
Enviado por Lorena Trevisanuto em 12/06/2013
Reeditado em 12/06/2013
Código do texto: T4337025
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