O homossexual pode ter comunhão com Deus?

Carta 065

Tema: O homossexual pode ter comunhão com Deus?

Um jovem deste imenso Brasil escreve pedindo um parecer a

respeito da possibilidade de um homossexual ter comunhão

com Deus.

Prezado amigo,

Paz e bem!

O amor do Pai, a graça de Jesus Cristo e as luzes do Espírito Santo estejam com você!

Demorei a responder sua consulta, primeiro porque eu estava fora, e depois pela complexidade do assunto, cuja resposta precisava ser elaborada dentro de alguns critérios de seriedade que a questão exige. Como teólogo eu não posso dar um parecer superficial ou leviano. Como especialista não me é facultado dar um parecer conforme minha opinião pessoal, mas dentro do ensinamento da Igreja.

No cerne da mensagem você pergunta: “Pode um homossexual ter comunhão com Deus?” Sua questão, pelo que engloba, parece demonstrar que você é uma pessoa que vive (ou viveu) a fé cristã, sem a qual a indagação não teria fundamento. Entendo que, se você está me perguntando, talvez já tenha se perguntado a si mesmo sobre essa dúvida. O que acha? O que sua consciência respondeu sobre esse tema? Sim, porque quem vive a fé cristã tem na consciência um ponderável foro, capaz de responder a esta ou outras questões.

Aí teríamos que esclarecer a que tipo de comunhão você se refere. Seria a “Comunhão Eucarística”, sacramental? Ou seria a comunhão natural que dimana do amor: Deus nos ama e convida para vivermos em união (comunhão) com ele? Uma vez respondidas estas questões, seriam elaboradas duas respostas: uma do moralista (especialista em Teologia Moral) e outra do pastoralista (agente de pastoral).

A Teologia Moral contempla a lei de Deus e tudo o que a ela se opõe, no caso, o pecado. Trata-se da lei positiva que sanciona a conduta ilícita de todo batizado. Conforme a Lei de Deus, o homossexualismo é capitulado como um pecado (cf. Ex 20,14: 6º. Mandamento: não cometer adultério (ou, pecar contra a castidade).

Os manuais de Teologia Moral dizem que são pecados contrários à castidade: o adultério, a masturbação, a fornicação, a pornografia, a prostituição, o estupro e os atos homossexuais. Estes pecados são expressão do vício da luxúria. A Teologia Moral não aceita a alegação de que o homossexualismo é uma “escolha vida”, uma opção. A tradição cristã, com base nos textos bíblicos (Gn 19, 1-29; Rm 1, 24-27; 1Cor 6, 9s) sempre declarou essa opção como desordenada, contrária ao natural, pois fecha o ato sexual ao dom da vida.

Como se nota, os atos homossexuais são contrários à Lei de Deus, pois são pecados contra a natureza da sexualidade humana. Este assunto, no entanto, se esgotaria aí, se não tivéssemos a visão pastoral dos pecados humanos. Jesus se autoproclama “o bom pastor”, como aquele que cuida e dá a vida por suas ovelhas. É ele que diz que não veio julgar/condenar a humanidade, mas salvá-la (cf. Jo 3,17).

Do ponto estritamente bíblico-teológico, sabe-se que Deus, a despeito de erros e desvios da humanidade, não faz acepção de seus filhos (cf. At 10, 34), e se alguém é homossexual pode sê-lo porque assim foi criado, ou sob alguma influência biológica ou externa que gerou esse comportamento.

A afirmação que é sem-vergonhice ou doença é teleológica, isto é, visa fugir do debate, invocando outras causas. A questão da homossexualidade aponta mais para o aspecxto do comportamento do que para outra coisa. Jesus Cristo encarnou-se e deixou-se pregar na cruz por todos, indistintamente.

Assim, mesmo que não concorde com os atos do pecador, a Igreja ama o homossexual, que através do batismo se tornou filho de Deus. A proposta é fazer com que todos cheguem ao conhecimento da verdade e do valor do bem, sem excluir nem discriminar a pessoa, que por suas razões, pratique o mal ou não possa fazer o bem. É cristãmente moral amar a pessoa, apesar de seu pecado.

Deus nos ama dessa maneira. De tudo isto, observa-se a existência, entre tantos, de dois caminhos, ou duas atitudes, nem sempre muito bem sincronizadas. Uma, moralizante, preocupa-se em balizar comportamentos: isto é certo, isto é errado, aquilo é feio; outra, de cunho pastoral, preocupa-se com a pessoa que caiu, e apressa-se em dar-lhe a mão para ajudá-la a levantar, independente do seu erro. É assim que Jesus agiria, por certo.

O melhor caminho, portanto, que se nos apresenta, é tomar uma atitude ética com todos, e – como diz outro mestre moderno da Teologia Moral, Frei Antônio Moser, “... é preciso conjugar o evangelho da responsabilidade, da graça e da cruz, ajudando as pessoas envolvidas em dramas, desvios e dificuldades. Como recomenda Jesus, sem julgá-las”.

Nenhum ser humano fica excluído da graça de Deus. Ele deu ao mundo seu Filho, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida terna (cf. Jo 3,16). A comunhão sacramental pressupõe pureza, e nem todos podem desfrutar dela. Já a comunhão natural, fruto do batismo comum a todos é uma abertura que Deus nos dá. Como viver essa comunhão? Pela oração, através das boas obras, desenvolvendo nossa fé na Trindade, no respeito pela Igreja, pela leitura e meditação da Bíblia, e outros ajutórios que o Pai coloca ao nosso alcance. Para Deus não importa os passos que demos para trás, mas aqueles que queremos dar para frente. Ele vê o interior do nosso coração.

Um abraço fraterno,

Fique com Deus!