Desaguar
Quantas vezes, beija-flor, fui sorvendo o néctar de tantas bocas a procura de algo que ao menos sabia se queria encontrar...
Foram buscas loucas e enlouquecedoras, madrugadas cheias de vazio...
Ao procurar desesperadamente pelo que não sei o que procurava, cativou-me a paz do céu, a calmaria da madrugada. Parei!
Abandonei o frenesi, disse adeus ao beija-flor, decepcionada comigo mesma por procurar ao invés de permitir-me ser encontrada...
Segui madrugada a dentro, apaixonada pela paisagem... descobri o valor do caminhar, para longe, para o alto, caminhar...
Percebi que o rumo não importa, o importante é ir... 'sábias pernas' elas conhecem o caminho que o coração deseja seguir...
E o coração quer caminhos de amor.. amor calmo, cristalino, como as calmas e cristalinas águas de um ribeiro... o amor anseia desaguar!
E abandonado o beija-flor, passei a cultivar jardins e então os insaciáveis beija-flores vieram até mim... recomecei a bailar... frenética e docemente num céu de madrugadas cheias de vazio...
Ao perceber que outra vez estava eu procurando o que se quer sabia se queria encontrar, ao ver que o mesmo erro estava a reprisar, caí!
Cair nem sempre é negativo, as vezes faz-se necessário, faz parte do processo de se reencontrar. Cavernas são essenciais.
Minha caverna fui eu mesma, eu precisava olhar para dentro, sentar-se na cadeira de balanço do tempo com aquele ser que do espelho me olhava, mas que não nos víamos a tempos. Doeu!
Abandonei de vez o beija-flor, aprendi a cultivar os jardins guardando o coração dos beija-flores que vez em quando procuravam uma florzinha aqui e uma ali, dela levavam o néctar, nada deixavam...
Voltei a caminhar.. voltei a sentir... a conversa comigo mesma foi ótima... era preciso saber quem eu era... quem a vida me havia transformado, quem eu tinha permitido que a vida fizesse de mim.
E a filosofia que a direção não importa, o importante é ir vale mesmo é para as pernas, o coração precisa guiar, e precisa saber exatamente o seu destino... qual menino que confia na mão estendida para chegar, nem sempre onde quer, mas sempre onde precisa.
Entre erros e acertos, guerras e paz, beijos roubados na chuva, e chuvas de lágrimas, vamos deixando nossos passos nas areias da vida. Ao olharmos para trás constantemente uma pergunta ecoa: Quem foi esta que deixou essas pegadas?
É... a mudança é mesmo a lei da vida!
E devagar, vou seguindo, a cada passo uma nova flor a desabrochar... espero ansiosa pelo desaguar...
Ah! lembram-se do destino do coração? O meu caminha rumo a felicidade!