A carta da esperança.

A carta mais linda.

Eu tinha vinte anos e, sempre que podia, ia aos domingos visitar um asilo. Sempre gostei muito de conversar e ouvir as histórias dos mais velhos. Eles adoravam falar de seus amores, suas peraltices, momentos tranquilos e da família.

Alguns contavam suas histórias sem mágoas, sorriam. Sorriam um sorriso de tristeza, de saudade, de espera, de esperança. Naquele momento o melhor de mim era ouví-los e ler um pouquinho para cada um.

Como era um asilo mantido por uma igreja evangélica a maioria gostava de ouvir passagens da Bíblia ou cartas recebidas de alguém que, eventualmente, lembrava de pedir desculpas, perdão por não poder ir visitá-los. Eram as cartas da esperança. Eu lia e relia a carta da esperança e as nossas emoções se encontravam nas furtivas lágrimas que teimavam em cair.

Dona Jesuina, uma senhora já bem idosa, me pediu que eu escrevesse uma carta endereçada ao neto, estava com muita saudade e tinha esperança que ele respondesse, que fosse visitá-la. Fazia anos que não tinha notícias.

Digo que aquela carta foi ditada por Deus. Não sei explicar como descrevi, com tanto carinho, a saudade, a espera e o amor que aquela avó sentia.

Passado mais ou menos um mês aparece na minha casa um casal à minha procura. Não estava, tinha ido passear com o namorado. Eles se identificaram - era o neto com a noiva -mostraram a carta que eu havia mandado e uma prima os levou ao encontro dela e foi testemunha de um momento de grande emoção.

Nem preciso dizer o quanto fiquei feliz quando soube do acontecido e confesso que chorei.

Não cheguei a conhecer o neto de Dona Jesuina, naquela mesma semana ele a levou para morar com ele numa cidade do Interior.

Mantivemos contato por mais dois anos dando conta que ela estava bem, feliz.

Depois minhas cartas começaram a voltar e não soube mais dela.

Maria Luzia Santos
Enviado por Maria Luzia Santos em 11/09/2013
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