o essencial

Não sei se já pensaram as coisas deste modo, o mundo é complexo e cheio de tudo e mais alguma coisa. Escrever uma história, basta pensar contar uma história..., é reduzir o mundo a muito pouco. Uma sorte conseguirmos com relativa facilidade ignorar tudo o que não consideramos essencial, fazendo desse essencial a nossa história.

Pensando isto estou a pensar começar a escrever contos, não é a mesma coisa que escrever cartas, vou tentar fazer a transição entre géneros. De certo modo acredito ir conseguir, por outro lado não sei se conseguirei, duvidando dalgum modo sobre se verdadeiramente o quererei.

A verdade é estar convencido não ser difícil, de certo modo continuarei escrevendo as minhas cartas. Nem elas eram mais que histórias desta realidade medíocre, sem a preocupação de lhe dar inicio e fim, apenas falar de mim usando a tua paciência infinita que sempre aceitei como uma curiosidade benigna e benfazeja, tua.

Desde logo penso que a diferença será esta, continuo a escrever como sei e faço, apenas procurarei não estar a escrever só para ti. O desafio é este, pensar, enquanto vou pondo no papel este entretêm de palavras que estas histórias contêm uma história. Uma história que, de preferência antes que acabe uma página, faça sentido... contando um conto.

Dominar um género literário não é uma coisa simples, mas forçosamente quem não for capaz de escrever um conto, dificilmente conseguirá desenvolver uma novela, mais dificilmente ainda poderá produzir um romance. Desta feita resolvi escrever sobre os contos, como se conta um conto?

Ora sem saber o essencial não se chega ao acessório, não se consegue o necessário. O necessário aqui, parto desse princípio, é contar uma história com princípio meio e fim. Mesmo se, entre meio e fim, não incluímos uma explicação credível. Para alguma coisa existe o fantástico, esse género de génios!

Desde logo, o ênfase anterior, porque acho que vou dar uma de génio..., inventar até que me doa a cabeça! Talvez, inventar que estou a inventar!! Só o meu amor será uma coisa certa e segura, até poderei começar a falar dele... (a) deixá-lo existir?...

Por isso, existirá sempre presente a leitora, a coabitar com o leitor, a viver com este escritor... no qual tenho que começar a acreditar. O conto de hoje não é mais que isto, falar do essencial para (eu) contar uma história.

De certo modo espero deslumbrar-te, como tem sido fácil!? Olhares para mim como quem vê um ignorante de tudo, a começar a falar de tudo... o que vai descobrindo de si e do mundo. Cabe-te a ti o papel da menina deslumbrada com a realidade, a mim talvez me caiba o papel do coelho da Alice?

Já alguma vez tinhas pensado nisto, o que pensamos nós dos autores das ficções que nos atraem a atenção, atiçam a imaginação e conjugam todo o tipo de vontades por nós congregadas antes, durante e depois duma leitura?

Também faz parte do essencial sentir-me um contista, descobrir as minhas pistas e inventar as histórias. Mesmo se reais, sobretudo estas, dá-las como quem abre um atlas e aponta a geografia dum continente ainda por explorar.

Quem me dera encontra nos teus olhos o brilho da emoção com que às vezes me olhas, o único motivo verdadeiro para eu escrever: com histórias, sem histórias, este conto?

R

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 25/08/2005
Reeditado em 25/08/2005
Código do texto: T45086