Devastação

Estou morrendo aos poucos e ninguém percebe. Morro a cada dia, a cada instante me vai um pedaço. Vou me despedindo.

Morro tão silenciosamente. E é a angústia desta sensação de certeza que me transporta para um ser ácido, incomodo e estorvo. Morrem comigo minhas lembranças, meus desejos, minhas fantasias. Morrem comigo meus amores.

Apago-me a cada dia. Saí de cena o eu que aprendi a ser. Visto-me de outra personagem mais animal que homem.

Mataram junto comigo as minhas sensações, os meus sentimentos. Mataram o meu eu, que aprendi a ser. E também morreu comigo a liberdade de ser. Vi-me sufocar. Mataram-me no dia em que me fizeram humano. Fizeram de mim uma caixa de Pandora ao inverso. A Esperança esqueceram-na dentro de uma outra caixa guardada lá no abismo do meu ente.

Morro um pouco com e pelas dores que causei e sofri.

Mato-me ao me recolher no silêncio.