Eu Te Amo!

Contemplo-te silenciosamente você a dormir meu anjo: você transborda tanta serenidade, tanta calma, teu rosto tão belo é como se fosse um anjo esculpido gota a gota pelos dedos da Vida; fico ali inerte, observando-te: és tão linda como uma borboleta que voa pelas superfícies de mares agitados, e ainda que estejas com teus olhos fechados eu sinto o amanhecer de me sentir vivo e feliz ao velar o teu sono, ao estar perto de tua alma cansada.

Busco dentro de mim palavras que possam expressar pelo menos um décimo do que eu sinto ao estar ao teu lado, mas as palavras meu amor escorrem de minhas mãos, procuro por elas para te ofertar não só minhas palavras ao teu coração, mas também os meus sentimentos e os meus anseios. “Fica, por favor, fica mais um instante sentada perto de mim”, e me banha com o silêncio do teu amor e da tua amizade os quais me enxertam com alegria e com o verdadeiro êxtase que é se sentir feliz.

Sim, nós discutimos, e já procurei e investiguei em todo o meu ser, em todas as minhas enzimas, células, cérebro, teorias, tudo dentro de mim eu sondei para entender essa intensidade imutável e sempiterna em te amar minha amiga. Não temo a solidão, nem as doenças que me afligem, nem a aprovação social, nem o sucesso financeiro, porém minha grande angústia e temor é nunca mais te ver, é nunca mais sentir o teu riso brincando nos parques infantis de minha alma onde nós, minha amiga, somos livres para rasgarmos todas as mentiras e decadências com que o mundo nos vestiu e nos envenenou.

Meu amor, deixa-me estender o lençol sobre teu corpo exausto de sofrer, exausto de se decepcionar, exausto de dores familiares, e tantas te sentes exausta de ti mesma. Dorme meu anjo, eu sempre vou te proteger, pois a tua tristeza é a minha dor, e a tua alegria é o meu júbilo. Por que eu sou bom para contigo? Por que eu te ajudo? Olha bem fundo nos meus olhos minha amiga: você já a verdade, e jamais vou obriga-la a construir sentimentos que não tens por mim; jamais vou obriga-la a seres quem não queres não ser; jamais vou obriga-la a me amar por uma questão de dever, ou por obrigação, ou por um sentimento de retribuição. Eu te amo porque te amo. Eis tudo.

Eu ainda vejo em ti essa luz casta e potente que nem o mundo, nem as pessoas, nem o universo, nada poderá apaga-la de você. Brinca comigo só mais essa tarde meu amor: não tenha medo de ser criança de novo. “Só mais essa tarde, vamos correr pelas ruas, subir em árvores, contemplar as estrelas, rir à vontade sobre qualquer coisa, sem nos preocuparmos com nada”: sem nos preocuparmos com o amanhã, nem com que faces deveríamos apresentar ao outro, nem sobre o que os outros irão dizer e julgar; vamos esquecer tudo e todos, e vamos apenas sentir a nós mesmos e a força inquebrável e tão tenra e doce que há na comunhão de nossas almas.

Sei que sou uma pessoa autodestrutiva, que te machuco tantas vezes com minhas frases sarcásticas; outras vezes sou tão precipitado, idiota, arrogante, e ridículo. Contudo te confesso que quando eu sinto tua presença é como se uma chama de fulgor e de bálsamo enchesse minha alma tão calejada, cética e despejada de alegrias. Sei que não posso te proteger de tudo, mas eu queria; sei que não posso querer e exigir que estejas perto de mim todos os dias, mas eu gostaria; mas eu sei, e disso tenho certeza, que não imagino um inferno maior e mais pavoroso nessa existência, ou em qualquer outra, do que viver ou existir longe da preciosidade do teu ser, das tuas dúvidas, das nossas discussões, das nossas divergências de opiniões, mas acima de tudo do amor puro e autêntico que é a nossa amizade. Eu só estou vivo porque na verdade você é o coração e a alma tangíveis que pulsam dentro do meu corpo decadente e abandonado nesse deserto inóspito e cósmico que tantas vezes sou.

Você minha amiga é a chuva e o sol que fomentam a fertilidade do solo deste meu ser tão infértil a árido. “Você precisa ir pra casa?” Eu sei, você tem seus sonhos para lutar, seus trabalhos, seus combates pessoais, e eu queria tanto poder ser mais útil a ti.

Dentro de mim há tantas salas abandonadas, esquecidas, cheias de poeiras e de ressentimentos que me prendem a este passado que minhas mãos não desprendem, mas que meu ser quer esquecer; nessas salas onde a foto da criança que fui foi mutilada pelo tempo, pelas minhas ações, e só vejo o lugar onde ficavam os quadros de minha alegria inalcançável.

Eu, tão ausente de mim mesmo, e tão próximo as pessoas;

eu, preso em minhas indecisões perto de seres cheios de certezas;

eu, amando num mundo onde o amor voou para outros universos;

eu, tentando entender meu coração incompreensível;

eu, tão calado ao dançar a valsa da minha solidão;

eu, sofrendo ocultamente as cacofonias das coisas banais da vida;

eu, que estendo a minha mão para almas amputadas;

eu, cujo meu coração é uma igreja de dores, preces e de perdões,

mas por que não consigo perdoar minhas iniquidades e erros?

Por que eu teimo em beijar os olhos dos meus sonhos inalcançáveis?

Por que não suicido toda vontade de desejar e de ser algo dentro desse esquife de melancolias e de esperanças tolas?

Luz introspectiva a esvanecer as minhas trevas existenciais,

enchendo as taças de meus vazios com tal imensidão indecifrável de

Ternura e Amor, transcendendo as nossas realidades tão difusas,

incendiando a frieza de meu moribundo coração dicotômico com

Ciclones de canduras que germinam de tuas mãos meu amor;

irrompendo em cinzas os torpores de minha tristeza prolixa,

Alvorecendo uma nova alma em mim com o teu casto beijo vulcânico.

Vem meu amor, entra dentro de mim, inunda e purifica com o teu corpo todos esses remorsos, todas essas poeiras que não cessam de gemer em minha memória, todas essas sensações de culpa que queimam as pontas dos meus dedos, todos os meus pecados que só o teu amor e a tua amizade podem resgatar; queime essas gavetas onde deposito tantas raízes de ódio e aversão pela vida e por mim mesmo; derrube essas portas de narcóticos verbais e químicos onde me escondo; por favor, eu preciso de ti para me encontrar, para me destrancar, para me desengaiolar, para me submergir de meus fracassos. “eu posso sozinho”, é o que me dizes? É verdade meu anjo, tens razão, não posso transferir tudo o que fiz e o que não fiz em minha vida para que outra pessoa faça por mim. Preciso renascer através de mim mesmo, mesmo que seja necessário me destruir por inteiro primeiramente. Mas eu preciso de você, preciso que fiques perto de mim, preciso sentir que tua mão jamais vai me abandonar meu amor. Sei que te peço muito. Perdoa-me por ser tão fraco.

O véu da noite novamente cortina e embota as cores, as formas, os sentimentos e as imagens de tudo ao meu redor, mas o esplendor do teus olhos nunca adormece nos vales solitários onde minha alma peregrina. Estou errado: não estou mais solitário, não preciso mais da solidão, pois tuas lindas mãos e teu espírito brincam de mãos dadas comigo a todo instante meu amor. Viver a plenitude da vida eu sinto e tenho quando o cálice de tuas lágrimas, de teus sonhos, de teus medos, de teu ser como você é e não de como eu quero ou idealizo em se tornar, estão perto e dentro do meu íntimo. Você minha amiga é a minha lógica indecifrável, você é a minha realidade real e insondável, você é a mais humana pessoa que meus olhos míopes e cansados já contemplaram e que nunca se cansam de querer te ver feliz.

Eu te amo porque te amo,

e nem a Razão, a Loucura, os fatos, as Ficções, a Ciência, as Dores

Poderão apagar tudo o que sinto por você meu amor, minha vida,

Minha amiga, meu anjo divinamente humana e tão falha quanto eu sou.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 23/12/2013
Reeditado em 02/04/2014
Código do texto: T4623244
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