Para Ângela Bretas

Ângela,

Que bom reencontro! Aliás nossas vidas andam se cruzando não só nas noites de autógrafos e nos jornais, como também na net. Desejo-lhe boas-vindas ao Recanto onde tem muita gente escrevendo textos de alta qualidade literária.

Referente ao seu estudo do Pantum ou Pantume, essa forma de escrever versos é originária da Malásia. O grande Olavo Bilac escreveu um, o qual está incluído no seu livro Sarças de Fogo, que é considerado um pantum perfeito na língua portuguesa e que transcrevo abaixo.

Bjs e saudades

F.

PANTUM

Quando passaste, ao declinar do dia,

Soava na altura indefinido arpejo:

Pálido, o sol do céu se despedia,

Enviando à terra o derradeiro beijo.

Soava na altura indefinido arpejo...

Cantava perto um pássaro, em segredo;

E, enviando à terra o derradeiro beijo,

Esbatia-se a luz pelo arvoredo.

Cantava perto um pássaro em segredo;

Cortavam fitas de ouro o firmamento...

Esbatia-se a luz pelo arvoredo:

Caíra a tarde; sossegara o vento.

Cortavam fitas de ouro o firmamento...

Quedava imoto o coqueiral tranqüilo...

Caíra a tarde. Sossegara o vento.

Que mágoa derramada em tudo aquilo!

Quedava imoto o coqueiral tranqüilo...

Pisando a areia, que a teus pés falava,

(Que mágoa derramada em tudo aquilo!)

Vi lá embaixo o teu vulto que passava.

Pisando a areia, que a teus pés falava,

Entre as ramadas floridas seguiste.

Vi lá embaixo o teu vulto que passava...

Tão distraída! - nem sequer me viste!

Entre as ramadas floridas seguiste,

E eu tinha a vista de teu vulto cheia.

Tão distraída! – nem sequer me viste!

E eu contava os teus passos sobre a areia.

Eu tinha a vista de teu vulto cheia.

E, quando te sumiste ao fim da estrada,

Eu contava os teus passos sobre a areia:

Vinha a noite a descer, muda e pausada...

E, quando te sumiste ao fim da estrada,

Olhou-me do alto uma pequena estrela.

Vinha a noite, a descer, muda e pausada,

E outras estrelas se acendiam nela.

Olhou-me do alto uma pequena estrela,

Abrindo as áureas pálpebras luzentes:

E outras estrelas se acendiam nela,

Como pequenas lâmpadas trementes.

Abrindo as áureas pálpebras luzentes,

Clarearam a extensão dos largos campos;

Como pequenas lâmpadas trementes

Fosforeavam na relva os pirilampos.

Clarearam a extensão dos largos campos...

Vinha, entre nuvens, o luar nascendo...

Fosforeavam na relva os pirilampos...

E eu inda estava a tua imagem vendo.

Vinha, entre nuvens, o luar nascendo:

A terra toda em derredor dormia...

E eu inda estava a tua imagem vendo,

Quando passaste ao declinar do dia!

(Olavo Bilac, in Sarças de Fogo)