Prezada Palestrante:

Desculpe-me, se involuntariamente, a aborreci com meus questionamentos.
Não nos conhecemos e a impressão que temos uma da outra foi gerada pelo nosso encontro em sua palestra.
Eu li o livro que você mencionou: O Corpo Fala - Pierre Well. E desta mesma linha de leitura, também li: First Impressions - Alexa Adams.
Todas as leituras nos levam às reflexões e, à alguns aproveitamentos. É exatamente isto, o que mais me atrai na leitura.
Sou uma pessoa que, por natureza, respeita as opiniões alheias. Neste caso, se estivéssemos conversando somente nós duas, eu não discutiria as suas idéias. Seria uma troca! Você expondo as suas idéias e eu as minhas.
Mas, no caso de uma palestra, é diferente. O palestrante leva novos conhecimentos aos ouvintes. E, como é sabido, toda palestra é aberta às discussões e, principalmente aos questionamentos.
A sua palestra não tem apoio cientifico. Eu a compreendi como opiniões suas, geradas ao longo das suas experiências de vida e, de experiência em sua profissão de psicóloga. Ou, eu compreendi errado?
Sinceramente, eu acho prepotente tudo o que leio em que o autor fala em nome de todos. Cada ser é único e, apesar das similaridades, querendo ou não, concordando, ou não, somos todos diferentes.
Fomos, à princípio, os ouvintes, comparados ao lixo. Em outras palavras somos o lixo humano e devemos, por sugestão, fazer uma limpeza interna e jogá-lo fora. E onde o jogaríamos? Onde depositaríamos o nosso lixo? Claro que você se serviu de metáforas, comparando os sentimentos menores ao lixo. Entendo que você quis dizer, na verdade, é que se deve valorizar os bons e descartar os maus sentimentos.
Todos somos feitos de sentimentos e emoções e estes são, muitas vezes, antagônicos. São esses sentimentos misturados que vão juntos sendo selecionados por cada indivíduo. Somente conhecendo o mal podemos diferenciá-lo do bem. O existencialismo é subjetivo. E cada ser tem sua compreensão do que é viver e, principalmente, do que é sentir. O que causa tristezas à alguns poderá causar alegrias à outros, dada a complexidade do ser.
Lidar com os próprios sentimentos é uma tarefa muito, apesar de estimulante, difícil, porque além dos nossos sentimentos, há sempre sentimentos de terceiros envolvidos em nossas reações sobre tudo o que vivemos.
Como diz o filosofo Frederick Nietzsche: "Não existem verdades absolutas".
Cada ser é um Universo a ser explorado por si mesmo e, também, pelo outro. E isto é maravilhoso. Na realidade todos buscam o sentido de sua própria identidade!
A mediocridade, de valores coletivos, atrapalha bastante esse desenvolvimento individual. Vive-se num mundo em que os padrões estipulados são sempre os mais fortes. Daí a grande dificuldade de cada um, buscar e descobrir as suas próprias "certezas".
Pessoalmente, a única certeza que tenho é a de que neste exato instante, eu respiro, e faço uso das minhas perfeitas faculdades mentais. E isto, não é pouca coisa, não. É uma certeza satisfatória.
Não foi minha intenção causar polêmica em sua palestra e, muito menos, de desestabilizá-la.
Veja você: o fato de eu ter prestado atenção em suas falas e ter feito anotações de coisas que gostaria que fossem esclarecidadas, e esperado, você terminá-la e, se pronunciar perguntando se alguém tinha algo a dizer, ou algo a comentar, foi que me manifestei. Minhas perguntas foram tão pertinentes e coesas que não vi motivo para a repercussão que produziram. O seu pai, por exemplo, sentiu-se ofendido e foi reclamar junto aos professores. O comentário dele foi este: que tudo ia perfeitamente bem até que eu me manifestei. Outros alunos falaram que eu devia ser uma pessoa mal amada e frustrada (rio, com a ignorância de tais comentários). Muitos se agitaram por tão pouco.
Se tivessem essas pessoas, incluo o seu pai, ouvido com atenção a sua palestra, talvez não tivessem reagido da maneira que agiram, não é mesmo? Afinal de contas, a sua palestra foi focada no ato de cada indivíduo aprender a lidar com o outro e, com os seus próprios sentimentos. E as reações não me pareceram terem sido estimuladas pelo seu discurso.
Acredito que seja normal as pessoas defenderem pontos de vistas diferentes. Principalmente quando elas vivem em mundos diferentes, pertencem à diferentes culturas, diferentes graus intelectuais, diferentes experiências de vida e, mais uma série de fatores que envolvem a construção do ser. Cada ser se constrói com as matérias primas que mais agradam-lhe e, essas escolhas são absolutamente pessoais.
Os sentimentos são terrenos delicados que é preciso muito cuidado ao serem pisados, manipulados e, semeados. A colheita dependerá de tais cuidados.
O importante na vida é que cada um, sinta-se feliz. Seja lá o que cada pessoa compreende por este sentimento. Há quem relacione a felicidade com grandes ganhos. Eu considero o viver, o meu ganho maior.
Nossas visões à respeito do que você falou, ontem, diferem na maioria das suas colocações. Sinceramente, eu não tive a mais mínima intenção de prejudicar a tua apresentação. Eu somente quis esclarecer alguns pontos colocados por você, nos exemplos que citou.
Não sou o tipo de pessoa que ouve as coisas sem refletir e sem questionar. Este é o meu temperamento.
Acho que, toda pessoa que fala para um público, principalmente para um público jovem, tem que ter muito cuidado e responsabilidade com o que vai dizer, pois é sabido que as palavras ditas, influenciarão a platéia.
Obviamente, que dentre tantas coisas faladas por você, algumas fazem todo sentido. Entretanto, outras me pareceram opiniões pessoais, ou, como você diz trazidas de suas experiências com os seus pacientes. E que talvez, não sirvam de modelo para uma maioria.

*Ao receber um elogio, agradeço. Assim, também o fazem os meus filhos. Amigos e todas as pessoas com as quais me relaciono.

*As críticas ouvidas sempre deixam marcas nas pessoas por mais preparadas que sejam estas, para ouví-las!

*Sobre competição: vivemos num mundo competitivo e isto é fato. Os jovens devem ser preparados para viverem neste mundo competitivo com dignidade e respeito.
EXEMPLO? Se há uma vaga para um determinado cargo em uma companhia requisitando um advogado. Se dois recém formados forem entrevistados e um deles, além da formação em direito se tiver conhecimento em outros idiomas, se tiver conhecimentos tecnológicos, se souber escrever com autonomia e ler com compreensão de texto, este candidato será o escolhido. O outro saberá que não foi escolhido porque precisa preparar-se melhor para pleitear vagas em cargos que pedem profissionais capacitados em suas respectivas formações. E isto é competição!
Nos EUA, especificamente em Nova York, onde resido desde 1982, há um lema que é o seguinte: "O importante não é vencer e sim participar".
Mas todos os componentes de um time sabem que haverá competição e o objetivo é vencer o jogo. Todos querem a mesma coisa. O fato de perder não anula os esforços dos jogadores, pois o importante foi a tentativa e o empenho de cada indivíduo. Para se conquistar algo é preciso a iniciativa e a vontade de dar de si o melhor. Lembrando que cada componente do grupo tem o mesmo objetivo. Quem treinou mais, quem se dedicou mais terá melhores resultados!

É preciso deixar mais claro em suas apresentações - falo como ouvinte - à respeito do tema: admiração x inveja.
A inveja é um sentimento destrutivo. A admiração é um sentimento nobre.
Elogiar a bolsa de uma amiga faz parte da boa educação. A pessoa em potencial ao elogiar não está necessariamente cobiçando a bolsa!
Aliás, a inveja não elogia; geralmente ela critica num sentido pejorativo ou deprecia.

O sofrimento faz parte da vida e acho sim, que deve ser respeitado e vivido intensamente até que este sentimento, naturalmente, se desfaça dentro do coração que o sente.
É quase desumano pedir para uma pessoa que perde seu ente querido para que não sofra, anestesiando-a com palavras vazias. Há até quem diga que é dever desprender-se de tais sentimentos para que o morto possa estar em paz! O tempo cura as pessoas de suas mazelas.

Se um casal namora há dez anos e continuam indecisos quanto à legalização formal de seu relacionamento, não vejo isto como algo que os incapacitem em tomarem decisões. Cada um sabe a razão pela qual vive de uma maneira diferente das demais.
A sociedade cobra dos namorados um casamento. Do casamento a formação de uma família que segundo a sociedade é sinônimo de ter filhos. As cobranças são sucessivas. E além de se lidar com as próprias escolhas ainda é preciso se lidar com as cobranças alheias.

Quanto à dependência de vícios dos quais você exemplificou como os cigarros, o facebook, os vídeo games e os celulares... Digo-lhe que o ser humano está distante de aprender a viver sem vícios.
Há pessoas que engordam quando estão ansiosas porque buscam na comida o alívio de suas ansiedades. Claro, que estas pessoas estão acumulando problemas para si.
Quem fica horas e horas no facebook está vivendo desequilibradamente pois está com certeza deixando de dar atenção a outras coisas que são importantes em sua vida.
Mas, comer é preciso e comunicar-se também. Cabe a cada um saber lidar com o tempo.

O importante é o equilíbrio entre tudo o que se vive. O equilíbrio é o que conduz à uma vida que vale a pena ser vivida.

Cristiane, o que mais se ouve é que se deve primeiro amar a si mesmo, somente assim se saberá amar o outro. Concordo!
Creio que somente as pessoas felizes são capazes de fazer feliz. E isto se aplica a todos, principalmente os pais. Somente pais estruturados emocionalmente são capazes de educar com amor e cuidados os seus filhos.

O que está faltando no mundo é o amor e a poesia. Ser poesia para o outro é uma das coisas mais bonitas que eu posso considerar.

Particularmente, acredito que a maioria das pessoas se ama e muito. O individualismo prova esse meu pensamento. Acredito que se deva exercitar é o amor pelo semelhante. Amar a si mesmo, é bem mais fácil que amar o outro. O egocentrismo tem braços e membros voltados para si.
O que é preciso que se tenha é mais olhos de ver, mais ouvidos de ouvir e mais pernas de caminhar em direção ao outro.

Se lhe causei desconforto, peço-lhe desculpas. E peço desculpas ao seu pai que ficou tão incomodado com as minhas perguntas...

Sinceramente,
Mari S Alexandre
Enviado por Mari S Alexandre em 18/05/2014
Reeditado em 09/08/2014
Código do texto: T4810763
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