lavor

quisera estar ao lado teu, dedicar aos teus lábios todas as palavras que guardo, silenciosamente, nos lábios meus. beijar-te no beijo teu. abraçar-me dos braços teus. envolver-me do corpo teu. confundir palavras minhas na tua fala.. sorver da tua língua, pouco a pouco o desejo intenso de palavras salivosas. gotejar-te de minhas lágrimas de mar a sal, doída, de tanta saudade que há, de ti, no dentro de mim. quisera, não houvesse o ontem, pudesse padecer-me e ressuscitar-me diante de ti, agora, para dormir face na tua face. repousaríamos entrelaçados de ‘nós’ em nós e num efeito caracol deslizaríamos pele a pele entre manhas e manhãs completas. Haveria de pedir-te: ‘amor, abraça-me de tuas urgências e calores, faz a terra tremer e voaremos gaivotas além mar.’

houvesse um só instante entre a terra e o mar, ínfimo vão para alcançar o teu olhar, haveria de encontrar este amplo sorrir, uma lágrima e estes braços apertados de silêncios por te esperar.

alcança, amor, esta mulher terna de vestes úmidas, senhora das águas-azuis que se derramam d'olhar. percebe, amor querido, o coração em laço escarlate sobre alvo lenço bordado dum poema amado. amor querido, em cada pingo de chuva há de mim, lágrimas que se perdem destes olhos quando se fecham de saudade a te pensar.

recosto-me à pedra gasta pelo tempo, à solidão de todos entardeceres a ficar e ficar, num nada a cada dia, entre silêncios e segredos, num embalar de palavras insanas, assim obsessivas. o outono sopra-me à memória ,do olhar, cores pálidas havidas. desfaleço-me num debrum à pedra fria com teus poemas tatuados ao corpo, como ungüento, para não esquecer-me de ti enquanto sou imagem ao tempo.