SOBRE ATEÍSMO

Caríssimo amigo PAULO MORENO, em atenção ao seu pedido deixado no comentário da crônica Lembrança XII, acredito que falar sobre ateísmo ou dizer-se ateu é muito fácil, entretanto tornar-se ateu é um processo lento que demanda muitas horas de estudo, coragem para “afrontar as verdades” aceitas pela esmagadora maioria e determinação para permanecer na condição de pária.

Um ateu sempre foi, é e será visto como excluído da sociedade ou portador de doença infectocontagiosa, ou criminoso capaz de todas as maldades. Um ser que desconhece o significado do sentimento amor, que é inescrupuloso e prestes a cometer as mais vis atitudes, incapaz de ter quaisquer gestos de bondade para com o próximo, vez que, por ser um sociopata egocêntrico, nada nem ninguém tem o mínimo valor, sendo também, potencialmente, pedófilo, libertino, iconoclasta, apátrida, homicida, ladrão...

Mas é livre.

E essa liberdade que o conhecimento proporciona é quase sempre invejada pelos teístas que apesar de cumprir todos os preceitos religiosos, como pagamento de dízimos, abster-se de alimentos ou diversões, levando uma vida austera e cheia de renuncias e compromissos para com a religião, têm os mesmíssimos problemas ou doenças que os infames ateus.

É bom que se diga que não existe nenhum livro explicando o que é o ateísmo (sem que seja tendencioso) nem um simples manual do tipo, ATEÍSMO SEM MESTRE EM 10 LIÇÕES, portanto as minhas conclusões sobre a crença nas falácias dogmáticas, estão descritas nos textos já publicados no Recanto das Letras: 1 – Jesus Imaginário (T1875712 de 19.10.09); 2- Terapia de Vidas Passadas (T1641300 de 10.06.09); 3 – Energia Vital (T2748909 de 24.01.11).

Um dos primeiros argumentos dos teístas para justificar a existência de deuses é o fato de que em todas as culturas, os mitos e as lendas, “explicam” o surgimento do homem; falam da grande inundação; do extermínio pelo fogo; pragas para dizimar plantações e do salvador que resgatará os escolhidos para a glória da vida eterna.

O ser humano, por ser dotado de raciocínio abstrato, procura entender o porquê da existência das coisas que o cerca. Nosso cérebro funciona fazendo comparações e associações entre as coisas novas e tudo aquilo que foi visto desde o nascimento.

Exemplo: som=> palavra=> conceito

pa- lá- ci- o => palácio=> casa grande;

á- gua=> água=> líquido; etc.

Entretanto existem coisas para as quais não existem referências anteriores e, para explicá-las, há o recurso abstrato do sobrenatural. Uma entidade intangível e criadora é a explicação óbvia para o surgimento de tudo aquilo que é, até então, inexplicável.

Criou-se assim o deus e com ele, todas as artimanhas capazes de manter a comunidade unida e controlada. Entram nessa dança os fenômenos naturais como os oceanos e rios, as tempestades, o fogo, os astros, as florestas, etc.

As sociedades atuais são descendentes daquelas que assistiram ao fim da última glaciação, mais ou menos, dez mil anos antes do presente. As camadas de gelo, com quilômetros de espessura, foram derretendo e as áreas baixas sendo invadidas. Esse volume foi de tal magnitude que a zona intertidal brasileira, ocorria mais ou menos a cem metros da atual.

Não há registro de cidades americanas sendo “engolidas” pelas águas, mas há de áreas de caça e de povos que ficaram ilhados e destruídos assim como as cidades da mesopotâmia, do entorno do Mediterrâneo e do sudoeste asiático.

É o dilúvio referido nos textos Vedas, chineses e assírios/caldeus com a figura de Utnapishtim, metamorfoseado no Noé (bíblico) e em muitas lendas das tradições orais dos povos do mundo em todos os continentes. Muitas lendas falam em destruição de povos e cidades pelo fogo, sem ênfase para os movimentos tectônicos que originaram os vulcões responsáveis por essas extinções, porque não há interesse religioso nessa simplificação.

Uma das coisas mais comuns para o intelecto humano, é a associação entre um fenômeno natural e a ira de um deus raivoso, mas quando você faz a análise desses textos à luz das circunstâncias históricas, é capaz de detectar as verdadeiras mensagens subliminares neles contidas como fizeram os evangelistas, que foram obrigados a escrever o que fosse conveniente aos interesses de Constantino.

Desses textos pseudo religiosos, o mais comum para nós é a bíblia, cujo único valor é ser o registro da ética e da moral do povo judeu, quando saiu do Egito, em torno de seis mil anos antes do presente.

Dela há que se destacar, além dos citados na crônica, os versos de Mt. 13:11 a 16 e o Gn. 3:19 que acaba de vez com essa historinha de vida eterna.

E foi assim, lendo e interpretando os textos à luz do contexto histórico que me livrei dos dogmas, das perseguições, das culpas e barganhas religiosas.