CARTA PARA UM AMIGO

“Há amigo mais chegado que um irmão”.

(Provérbios 18,24)

Meu amigo, sabe aquele ditado popular que diz que “quem é vivo sempre aparece”, então, no nosso caso posso dizer que “quem é vivo sempre escreve”. Para dar sinal de que ainda estou vivo resolvi escrever.

Nesses tempos em que tudo parece começar a acabar tão de pressa, existem coisas que duram. Quando parece mesmo (e cada vez mais) que “tudo o que é sólido desmancha no ar”, existem ares da vida e dos encontros na vida que parecem duros e duráveis como a pedra que o vento vai polindo, mas à custa de milênios. Uma delas é a sua amizade!

Certa estava a Adélia Prado quando escreveu que “aquilo que a memória amou fica eterno”. É uma saudade de pessoas, de objetos, de momentos que nunca voltam. As amizades são assim. Algumas são breves. Um dia, alguém passa, convive com você, deixa em você a marca-de-seu-ser, imprime na memória um certo tom de voz, uma cor de olhos, uma frase dita ao acaso, uma lembrança de um dia... e vai embora. Às vezes nem a internet o encontra mais.

Outras amizades ficam na presença. Você conhece alguém, de perto ou de longe, e ele fica. E mesmo longe – de vez em quando ou para sempre -, ele permanece perto. Creio, que a distancia não faz desaparecer a amizade em absoluto, somente a sua atividade. No entanto, se a ausência se mantém por muito tempo parece, de fato, fazer com que a pessoas esqueçam sua amizade; e vem daí o provérbio: “A ausência desfaz as amizades”.

Meu amigo, hoje em dia escrever uma carta é apenas para os saudosistas. Na época em que vivemos as redes sociais ou os telefones resolvem isso. Mas um telefonema não é uma carta falada. Pois se fosse faltaria o silêncio da solidão, a calma da caneta pousada sobre a mesa que espera e escolhe pensamentos e palavras. O telefone põe a solidão a perder.

A diferença entra a carta e o telefone é simples. O telefone é impositivo. A conversa tem de acontecer naquele momento. Falta-lhe o ingrediente essencial da palavra que é dita sem esperar resposta. O telefonema não pode esperar. A carta é paciente. Guarda as suas palavras. E, depois de lida, poderá ser relida.

Amigo, escrevo esta carta em nome da nossa amizade e agradeço a Deus, o Sumo Bem, a Plenitude do Bem, por ter você como um amigo...como diz o poema sagrado: “Há amigo que é mais chegado que um irmão” (Provérbios).