A beira do Abismo
 

Longos meses  se passaram que não escrevo  em minha escrivaninha. Não foi falta de tempo. Não foi preguiça, nem tão pouco vontade. Só que a cada dia que passa, me encontro mais deprimida. Estou perdida neste meu mundo que por livre escolha abracei  já não me  lembro mais há quanto tempo. Fechada nesta minha redoma, sei que há um mundo lá forra do qual quero tomar parte.  Queria sair. Ir a um cinema, passear, ver vitrines e comprar tantas coisas que preciso, andar de barca, dar uma volta por este Rio de Janeiro maravilhoso, sentar em um quiosque, tomar uma água de coco! Queria ver o por de sol  Queira, queira tanta coisa sem me preocupar com horários e compromissos. Mas  como que, com os pés chumbados no chão não consigo mais sair desta mesmice. Desta teia que me envolvi. Sempre fui uma mulher dinâmica, independente. Vivia dentro de uma sociedade feliz e  tranquila.Mas veio esta maldita doença do meu marido. MAL DE ALZHAIMER. O tipo  da doença dele e degenerativa. Vai definhando dia a dia. Não fala, não se mexe, a maioria das vezes esquece que esta comendo e fica com a comida na boca sem engolir. Construímos nosso  lar em um sitio, onde a casa mais próxima esta há 120 metros. A companhia telefônica me deixa dias e dias sem linha. Estamos só eu e ele. Visitas? Só do meu irmão nos domingos quando não tem que fazer. Os filhos dele só aparecem para  veranear. E assim a rotina do dia a dia já esta tomando conta da minha existência. A depressão faz rolar lagrimas e lagrimas em meu rosto. Não tenho dinheiro para colocá-lo em uma clinica boa. E em qualquer uma não vou colocá-lo nunca. Assim vou levando a vida. No fundo no fundo, não é ele que sofre. Sei nada sente. Quem sente sou eu. E ai pergunto.Se existe a reencarnação ainda não paguei a minha divida? Será que só será paga com a minha morte? Será que um dia os vizinhos vão descobrir que os dois estamos mortos pelos urubus voando?Só sei de uma coisa.
 
          ESTOU A BEIRA DE UM ABISMO.