Fim das Estações
24 de dezembro, 2050
Oi, tudo mal?
Estou escrevendo da sua árvore
para lhe dizer que:
Amanhã não será um dia lindo
Que sinto uma alegria vulgar
Que algo brilha nos meus olhos
e está cheio de más intenções
Todo dia eu subo na sua árvore
E enquanto eu subo,
Eu rezo para uma folha
e enquanto eu rezo para essa folha
todos se esquecem de que ela é verde
Estive pensando que cada um sabe o bastante
e não há mais nada para se explicar
Que cada um sente muito em se desculpar
e não há mais nada para se culpar
Que cada um sabe se olhar
e não há mais nada para se conversar
Estou sentada na árvore enquanto lhe escrevo
E os galhos são estreitos
como as frases que aqui coloco
sinto preguiça de ir até o fim da linha
eu não vejo razão para que o comprimento
das pautas seja esse tão longo,
tão reto e tão formal
Nem o vento que passa pelos
meus cabelos vai tão longe
meu parágrafo não tem importância
minha vírgula é colocada involuntariamente
faz tempo que não penso em mais nada
só sei rezar para essa folha
um pé atrás do outro
até o fim do galho
não penso mais em segurar o lápis
tenho muito o que lhe dizer
mas não penso mais em segurar o lápis
quando receber essa carta
diga-me se você também se esqueceu
de que a folha é verde
pois enquanto eu subo a sua árvore
eu rezo para uma folha
e enquanto eu rezo para essa folha
todos se esquecem de que ela é verde.
Ocupo-me da última linha para dizer que é não há mais Primavera.