Janeiro, vem cá!

“Olá Janeiro,

Que cheiro bom tu tens, de roupa nova.

E essa cor? Amarela, vibrante.

Todo ano trazes listas de mudanças, matrículas em academias. Iniciativas.

Tens esse desejo de estar entre amigos.

Tens vontade de ser melhor, de começar tarefas, de ser feliz.

Essa sua cor ajuda, ilumina.

Amarelo que lembra esperança.

Querido Janeiro, tu renovas todas as expectativas.

Época gostosa essa, da sua chegada.

Tu fazes todo mundo querer ajudar, fazer acontecer.

Todos parecem felizes consigo mesmo.

Possibilitas viagens; praia, sol, mar, alegria.

Mas também permanece rotina; trabalho, família.

Em comum, há o brilho nos olhos. Mesmo naqueles que tentam não demonstrar ou naqueles que fingem não se importar.

Há expectativas para sua chegada, nobre Janeiro.

Todos anseiam mudanças.

Todos querem possuir-te.

Todos querem ser!"

(...)

Valentine, sentada às escuras do canto direito de seu quarto, rabisca seu caderno de anotações.

Pergunta, insistentemente, o que quer ser e que expectativas ela tem para a chegada do senhor Janeiro.

Na mente perturbada de Valentine, renovação pode ser todo dia.

Na verdade, ela acredita que não é necessário essa convenção toda, que não passa de um impulso consumista.

Valentine descreve à sua maneira, que podemos recomeçar, traçar planos e ter esperança o ano todo.

Diz que esquecemos disso e vivemos manipulados por um calendário.

Valentine sabe que o tempo é relativo.

A vida escorre por entre as entrelinhas de cada uma das frases feitas, ecoadas por aí.

Solitária, Valentine relembra algo que leu em algum lugar:

“Reclamar é clamar de novo.”

E diz: “não é que é mesmo?”

Pensativa, continua desabafando em palavras, que todo ano clamamos (quase) sempre pelas mesmas coisas.

Se formos os mesmos, não alcançaremos nada diferente.

E assim como Valentine vê isso, ela clama por uma mudança de dentro para fora.

Nela, em mim, em você.

Até quando? Eis a questão!

E quantas Valentines leem isso agora?

(...)

Ler um livro.

Ouvir músicas novas.

Sair para passear mais vezes.

Sentir-se bem com o próprio corpo.

Sentir-se disposta.

Ser produtiva.

Brincar com as crianças. Brincar com seus animais.

Visitar a família.

Ver todos os amigos, regularmente.

Tirar a conta do vermelho.

Viajar.

Tomar chá todo dia.

Sentir-se criativa e explorar isso.

Desenhar.

Pintar algumas camisetas.

Assistir muitos filmes.

Beijar sem medo ou culpa.

Fazer alguém feliz.

Ver o sol nascer.

Encontrar braços em abraços.

Ver o pôr-do-sol no alto de um morro.

Conhecer novos lugares.

Assumir-se para si mesma.

Ser tudo que sempre foi. Que sempre quis.

Apenas SER.

Estar. Ir. Saber.

Basta querer!

Valentine quer! E você?

"Caro Janeiro,

A senhorita Valentine te aguarda na sala ao lado, para um café com amor. Bem quentes.

Fique à vontade!"