Amado Tomás:

Ponta Grossa, dois de novembro de mil novecentos e quarenta e três.

Tomás, fazem 16 meses que você não me escreve. Às vezes, penso que você faleceu. No entanto, algo grita em mim que tua personalidade, fugitiva e niilista, te escondeu em qualquer cavidade. Não consigo ler tuas últimas cartas, pois quero que aquelas sensações sejam eternas.

Todos os meses, escrevo, e imagino que você vai responder, dizendo que vai voltar, que tudo o que está vivendo não deturpou nosso amor, que quando penso que pode não estar vivo, minha alma dói por não ter te acompanhado na despedida, devido àquela briga. Você foi tão amável enviando-me mensagens no começo de tudo, mas agora não sei onde está.

Os tempos por aqui estão difíceis. Papai quer que eu case com um

homem chamado Rodolfo. Querido Tomás, que me amou com toda voracidade de nossos sentidos, sem ti, eu não sou de ninguém. Mantenho-me calada perante ao meu pai, não troquei sequer uma palavra com o tal de Rodolfo, estou deixando as coisas acontecerem.

Meu amado Tomás, não sei se está vivo. Por ti, meu coração bate e

reluta enquanto a esperança vai morrendo. Talvez, você nunca mais volte. Talvez, tenha encontrado outraí. Ou, talvez, esteja novamente na condição de fugitivo. Você confia tanto em si, será que conseguiu manter tua paz? Algo me diz que você se esconde e voltará com nosso amor, vivo ou morto. Creio que tua astúcia te manterá vivo, até o fim desse inferno.

Irei te esperar, até papai organizar o maldito casamento com Rodolfo, que será em três meses, ou um pouco mais, espero. Se não voltar nesse tempo, não me encontrará viva. Desde que você partiu minha vida é só sofrimento. Diariamente, preciso saber se você respira, ainda respira?

Deixei de ir à missa, o bom Deus não te tira o que mais se ama. Deus

te tirou de mim. E minha maldade te mandou, sozinho e desamparado, para a Alemanha. Às vezes, acho que você está escondido aqui atrás de casa e que logo isso acabará. Às vezes, acho que você não virá, nunca mais, e penso em cortar meus pulsos e acabar logo com tudo isso.

Não consigo suportar a ideia de outro casamento, outras mãos, outros pelos, outros suspiros, que serei entregue. Minha castidade foi, e, sempre, será tua. O tormento da tontura, da dor, e de se esvair aos

poucos não pode ser comparado a não poder mais sonhar contigo.

Talvez essa seja minha última carta. Papai está me privando de sair

de casa. Eu gostaria de dizer, que quando eu disse que não queria ter um filho seu, eu menti, e que, esse sonho, carreguei junto a nós dois de branco, na igreja, mesmo com seus defeitos e seu niilismo, casados.

Penso, todos os dias, que nesses tempos de luta, teu niilismo te

protege. Preciso que teu niilismo te traga à nossa cidade, para minha

mão, finalmente, ser sua. Tomás, sei que não me responderá. A solidão

bate mais forte a cada noite nessa primavera, tenho medo da morte, da tua morte. Converso com as paredes, bebo do álcool, escrevo poemas sobre nosso amor, e tudo o que eu queria é saber que você lê minhas cartas. Torço para que ainda acredite em mim.

Volte! Me amando, ou não, te quero vivo, feliz e saudável.

De tua Joana. Te amo, meu único amor.

Gianne Lorena
Enviado por Gianne Lorena em 15/02/2015
Reeditado em 15/02/2015
Código do texto: T5138460
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