Da série: quero que meus netos leiam

Querida amiga ..........

Amiga hoje parte do meu tempo é destinado a escrever está carta a fim de desabafar. Parece que as pedradas e pauladas da vida nunca vêem no singular. Sempre no plural. Ou melhor dizendo vêm sempre no coletivo...É como se fosse uma maré alta e desastrosa que vai arrastando para um buraco negro todas as nossas emoções. Além do mundo desabar sobre nós parece que as pessoas que estão ao nosso redor ainda contribuem para colocar mais lenha na fogueira...

Amiga, você sabe da minha luta. Criei quatro filhos. Todos estão encaminhados. Atualmente crio a minha neta, filha de minha filha mais nova. Apesar de algumas aporrinhações criar os netos tem um doce sabor...Não temos mais vinte anos. Queremos viver outras coisas. Uma criança prende. Mas eu a amo como se fosse minha filha. Filha da minha maturidade. E todos os dias agradeço a Deus pela vida da minha netinha e por Deus me proporcionar essa dádiva tão grande de poder exercer um papel tão importante na sua criação e educação. Momento algum reclamo disso. Apenas gostaria que as pessoas que me rodeiam fossem mais complacentes. Mais amigas. Mais compreensivas. Também sofro de carências e preciso de colo. E amiga, sabe o que as pessoas fazem? Não conseguem enxergar que os problemas estão nelas. Como também posso ter alguns. Não estou dizendo que sou santa. Não estou dizendo que não erro. Claro que sim somos humanos.

Não quero me justificar, mas passei a minha criancice toda achando que ia me formar, ter o meu emprego e ser uma mulher independente. Lá em um dado momento da vida escolhi mal e optei pelo casamento, que me rendeu quatro filhos saudáveis e eu agradeço e glorifico ao Senhor por isso. Criei como eu sabia. Sei que houveram falhas na minha criação, mas estão todos aí cuidando de suas próprias vidas. Tenho orgulho deles. Quando quero falar de gastronomia procuro o mais velho. Quando quero falar de trabalhos artesanais procuro uma das gêmeas e quando quero falar de tecnologia procuro a outra gêmea. Infelizmente a minha filha menor só procura para pedir e exige muito de mim. Eu faço o que posso. Mas sei dizer não. O que ela nem sempre aceita bem. A minha neta é filha dela e eu cuido do tesouro mais precioso para uma mãe que é o seu filho (a)...Mas simplesmente ela sempre acha que eu não faço nada. Gosto muito de mim. E só faço o que posso. E volto a dizer: sei dizer não. ..Ela sempre acha que eu dou amém aos outros meninos. Cada um tem seu ponto de vista. Eu acredito que sou justa. E brigo sempre com ela porque não aguento mais tanta desordem e bagunça em casa. Pode-Se observar calcinhas, soutien e bolsas espalhadas pela casa em cima dos aparadores...Isto é somente o que me permito relatar porque acontecem coisas bem piores. Então pequenas brigas por coisas rotineiras existem sempre. Se ela tiver cinco escovas de cabelo todas se somem e ela vai buscar a minha...A minha some também e sou obrigada a descer e pentear os cabelos na casa da minha mãe. ..Espero em Deus que com a faculdade está criatura possa mudar...

Tenho 51 anos. Com 44 anos fui cursar a minha faculdade. Fui realizar o meu desejo de criança. Fui uma aluna aplicadissima. Sei que o assunto desta não é esse, mas me orgulho muito desse momento de minha vida. Melhor do que casamento. Melhor do que tudo já vivi. Fiz 573 horas de palestras. Adorava os desafios. Conheci muita gente boa. Minha turma a principio não era unida. Mas lembro de cada um com muito carinho. Claro que tem os especiais...Fiz estágios. Tive meu primeiro emprego depois de formada. Fui dar aulas em quatro cidades do interior do meu estado. Fui também conhecer essas cidades...Foi muito gratificante. Somente em Salinopolis tive 1.500 alunos aproximadamente...Passou. Veio a minha neta. E mais uma vez eu mortifiquei os meus desejos de seguir carreira para ficar pilotando o fogão e a casa inteira, o carro e tudo o mais...

Minha caçula problema passou no vestibular e faz enfermagem e eu dou todo apoio que posso. Vivo dentro de casa fazendo crochê e reparando minha neta que já estuda também...

pela 123243444455....mil vezes assumi o meu marido depois de muitas idas e voltas...Ele me ajuda, mas também me dá muitas dores de cabeça... E amiga...Agora sim vem o fato que me entristeceu bastante:

Vejo que esta filha é meio grossa. Chamo atenção numa boa. Não quer ouvir...Fiz alusão da maneira dela ser com a maneira de ser de uma colega de faculdade...Vou chamar minha colega de Lalá para não dar o nome verdadeiro. ..Minha colega era bem grossa e difícil. Mas ficou uma menina muito fina. Os próprios professores disseram isso. Se ela ler este texto se reconhecerá automaticamente. ...Sempre gostei dela de graça e a mudança foi para melhor e todos ficamos contentes com isso. O mesmo quero que ocorra com minha filha. ...E dizendo isso a minha filha pula o marido que todos os dias se droga com bebidas e diz assim: mas onde está a Lalá agora? Está trabalhando e tu? Estás aí fazendo crochê. ....

Beijos amiga....

Morri por dentro, mas estou viva e Deus sabe das minhas necessidades. ...

Patrícia P Ventura
Enviado por Patrícia P Ventura em 08/04/2015
Reeditado em 08/04/2015
Código do texto: T5199319
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