CARTA RESPOSTA PARA A FÃ

Agora eu tenho uma fã. E que fique claro que não é uma fã comum, que admira produções puramente materiais, é uma admiradora da minha pessoa. Confesso que durante muito tempo da minha vida, digo isso relutando para não escrever que foi na minha infância, meu maior objetivo era ter fãs. E não escrevi que isso aconteceu na minha infância, exatamente devido ao fato de que, talvez, isso ainda se aplique aos dias de hoje. No entanto, isso não seria errado por completo, uma vez que penso que ainda vivo a minha infância e tal realidade faz de mim o que sou hoje. Enfim, essa discussão interna poderia durar alguns parágrafos, mas deixemos para outro momento (quem sabe o tópico servirá para futuras reflexões em lugares entediantes, como viagens de ônibus) e vamos continuar a linha que eu comecei: sempre quis ter fãs.

Sim, é justo que, no início, delimitando aqui uma infância cronológica, até uns 12 anos, queria ter fãs por ser um grande músico, um ator ou alguém muito reconhecido por algo do tipo. Nessa época, bem no começo dela, eu mal sabia a diferença entre ídolo e fã, vivia a chamar o Chorão do Charlie Brown de meu fã, assim como a alguns jogadores de futebol. A partir dessa idade, 12, até alguma outra que é recente, mas não sei quando, eu diria que minha vontade de ter fãs tinha se modificado. Nessa segunda etapa, eu pensava que poderia fazer o meu melhor, independente do assunto, de modo a ser bem visto por prestar serviços à humanidade (foi nessa parte que eu sonhava em ser um cientista, engenheiro mecatrônico e criar algo revolucionário). Mas o amadurecimento é compulsório e, ainda que pareça bastante um tanto sonhador, houve uma ação de envelhecimento de ideias ali.

Bom, acho que é aqui que eu queria chegar - e se não era, quem se importa? Foi onde eu cheguei, isso eu me importo. Hoje eu tenho uma coisa na minha cabeça: eu sou um enviado do futuro para exterminar a raça humana... não, espera. Eu acredito ter uma missão de arrancar sorrisos, ser melhor para o meio que estou inserido, ser melhor por eu mesmo e doar o que eu puder para isso - no meio do caminho descobri que cativar, não ter vergonha, ser expressivo ou dramático e respeitar os outros era o caminho. Assim, acredito que isso deu continuidade a minha sede por fãs, de uma forma mais saudável e madura. E foi então que a coisa começa a ficar complicada, te explico no próximo parágrafo.

Primeiramente, obrigado por estar lendo até aqui, isso significa que você sabe ler. Certo? Claro que sim. A parte disso, temos a seguinte certeza: ter fãs é uma responsabilidade muito grande. Quantos vezes ouvimos essa mesma frase de celebridades? Muitas vezes e sempre achamos um tanto hipócrita, sendo que na maioria das vezes estamos corretos. Eu não sou uma celebridade, sou só mais um. Eu não tenho fãs de verdade, eu tenho grandes amigos. Então, tendo em vista as duas últimas colocações, eu posso dizer, sem parecer piegas, que assume-se grande compromisso ao se dispor a ter fãs. Tal ideia baseia-se no fato de que tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé (isto é, em português, tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas). Bom, se Saint-Exupery escreveu e até hoje as pessoas continuam a replicar, deve ser um bom argumento.

De qualquer modo, o fato é que me preocupo bastante quando percebo algo do tipo. E já estava te sondando desde algum tempo, fã, pois via um olhar diferente em você que surgiu sem precedentes. Não sabia eu se, nesse caso, eu quem endoidecia ou se via além da visão. Fico feliz que tenha esclarecido na sua carta que teremos uma amizade sem cobranças e expectativas, pois é o que me assegura de que estamos no caminho certo. Nos vemos apenas 3 vezes no ano? Oras, mudemos isso. Se contarmos com 2 reuniões de amigos em comum, já são 5 vezes ao ano. Se expandirmos para visitas em datas específicas, como aniversários, poderíamos ir para 7 vezes em um ano. E se, quebrássemos os recordes de surpresa e decidíssemos aparecer sem avisar com antecedência qualquer dia, teríamos em torno de 10 encontros por ano. Ufa! Acho que a coisa engrenou.

Além disso, acredito que eu tenha me decepcionado um pouco e isso fez mal ao meu coração certas vezes. Talvez isso tenha influência em meus namoros. Tal desapontamento veio justamente de cobranças excessivas e possessão em situações que julgo desnecessárias.

Eu tenho certeza que vai ser diferente. Vamos continuar firmes e fortes trabalhando juntos, vamos dar o que temos ao mundo. Não sejamos cansados, introvertidos ao despertar alheio e nem mesmo desistamos em momento algum. Não estou aqui para firmar um compromisso contigo que tenha a chance de se tornar um nó, mas convido-te a fazer um laço, algo que não nos prenda, nos ligue, de modo que somemos e nunca sumamos.

Ah, esqueça a história de fã que escrevi. Foi uma tentativa de me fazer compreensível aproveitando um gancho que encontrei. Obrigado por ter me recuperado nesse último encontro, cheguei a você pensando que iria ficar quieto "na minha" até o final, como já me ocorreu outrora. Obrigado pelo seu respeito. Obrigado pela admiração. São pessoas como você que fazem outras pessoas, como eu, continuarem com alegria de viver e com vontade de melhorar.

Você é demais. Você é um chuchuzinho com calda de jiló. Estranho? Diferente? Fora da caixinha? Bom, é por isso que eu gosto! De ordinário já basta os comuns do dia a dia. Sejamos a diferença. Obrigado por existir.