7ª CARTA

“Tu viu ontem? O vestidinho da Lucinha? Até parece que tava agradando. Tem gente que não tem vergonha mesmo. Muito curto. Vermelho berrante. Tava todo mundo olhando pra ela. Já entrou pensando que desfilava na paçarela. Sentada então nossa senhora! Viu quanta selulite? Fazem alguns dias que venho notando. Ela quer é se mostrar. Chegou com namorado novo, você viu? São um por mês. E já vi ela trocar antes disso. Viu a calcinha dela branca? Tava todo mundo vendo.
E pra que pintar o olho daquele geito? Era festa de fantazia? Fiquei olhando ela de longe. Ainda não consegui ser amiga dela. Também nem sei si quero. E dançando então? Nunca vi ninguém se ezibindo tanto! Não acho o corpo dela bonito não. Tá muito gorda. Vestido apertado e curto no corpo como o dela fica muito feio. Reparou que fui embora mais sedo? Eu tava sosinha mesmo e não tinha que dar trela pra ninguém.
Me revolta isso. Deus mi livre.
Txau
Maria Alice”.

Não, eu não reparei. Eram tantas as mulheres bonitas que a minha atenção ramificou-se.
O que pude perceber, de fato, foi a sua figura no canto da sala. O seu vigilante apreço pelas pessoas da festa me pareceu de tal maneira profissional que julguei tratar-se de alguma contemplação filosófica. Daí o não aproximar-me. Não costumo interromper o processo de estudos sócio-comportamentais - quem sabe para a defesa de sua futura tese de mestrado?
Agora, lendo a sua mensagem, descubro o ramo que escolheu para firmar-se no competitivo mercado de trabalho: a estilística da moda! Eu a parabenizo pela escolha e faço votos de muito sucesso. Os estilistas de nosso país já fazem carreira no exterior e, com certeza, você “engrossará” o rol desses profissionais.
A despeito de não dominar o assunto, seria um prazer sugerir a você a leitura de alguns trabalhos específicos. Porém, é certo que já os conheça, levando-se em conta o seu interesse na área.
De qualquer forma, sugiro, antes, alguns nomes indispensáveis ao aperfeiçoamento de sua “invejável” cultura: Celso Cunha, Domingos Paschoal Cegalla, Evanildo Bechara, Lindley Cintra e, logicamente, o Guia Ortográfico da Língua Portuguesa...

Abraço,
Dr. Golden.