9ª CARTA

“Como sabe, estou casada há três anos. Posso dizer que meu relacionamento com Marcelo é bom, embora não se enquadre no padrão das histórias de príncipes e princesas. Estou me confessando a você porque nos conhecemos desde crianças e sei muito bem em quem posso confiar. Não tenho do que reclamar do meu marido, e acho mesmo que da parte dele seria muito justo qualquer manifestação de estranhamento. Acontece que algumas dúvidas, antigas até, começam a tomar força e já reclamam uma solução urgente. Eu diria até uma opção urgente!
Rafaela , uma linda amiga dos tempos de faculdade e muito íntima, a quem confiei segredos à época, e com quem mantive uma amizade fervorosa até o dia do meu noivado, voltou a me procurar dia desses. Conversamos um longo tempo no barzinho da praia, ela de mãos dadas com as minhas sobre a mesa. Rafaela é uma mulher muito convincente, o seu olhar me desnuda, as suas palavras me calam e o seu toque me vira do avesso. Eu preciso tomar uma decisão muito importante, a mais complicada da minha vida. Mas como deixar o Marcelo? Pior: E a minha filha Silvinha, de dois anos? Sou tímida, feminina, muito romântica e frágil. Tenho medo do futuro. Não sei o que fazer.
Jéssica.”



Minha amiga, não conheço a dimensão das portas do seu closet. Penso que você deveria contratar um marceneiro para os devidos ajustes. Você está presa - ou entalada - e necessita urgentemente “sair desse armário”.
O seu relacionamento com Marcelo é bom, como diz, mas não se esqueça de que “bom” é carimbo mediano entre ruim e ótimo! Chame o seu marido para um barzinho na praia, sente-se com ele à mesa, com vista para o pôr do sol, e o convença de que até o astro fervente esfria à noite. Ou então faça o inverso, isto é, ligue para Rafaela (pessoalmente é perigoso - seu olhar a desnuda!) e diga a ela que a lua também nasceu para todos e que você prefere uma vida regada a eclipses a ser atormentada pelo fogo destruidor de famílias.
Ou deixe um bilhete sobre o travesseiro de Marcelo, que foi bom enquanto durou, para ele tomar conta de Silvinha enquanto você vai "ali, com Rafaela, e não volta mais".
Se quiser, toque a vida pra frente com o seu marido, mantenha esse amor paralelo em eterno segredo, que as paralelas não se encontram; mas não vá chamá-lo, com os olhinhos fechados, de Rafaela!
Por fim, você também pode apresentar um ao outro, fazê-la íntima da família, começando por persuadir o Marcelo de que “três é demais!”, comprar uma cama partilhável do suingue e viverem felizes para sempre.
Abraço,
Dr. Golden.