FAZENDA ESPERANÇA I

...já não há mais lágrimas, filha amada, nos olhos sofridos deste pai, para chorar por ti! ...a dor é já tão forte que, inimaginável, entorpece-me a alma e torna meu coração apenas um fiapo de órgão a bater débil, frágil, a cada notícia da tua e do teu sofrimento, prisioneira da maldição da droga, essa assassina de almas! ...o divino, no entanto, muito para além da nossa vã capacidade de entendimento, guiou-nos neste sobreabrir-se de primavera , na primavera dos teus 22 anos, para a fazenda esperança! ...esperança em que o exemplo vivo de ressuscitação oferecido pelas tuas “cuidadoras” reverbere no que te resta de puro, de projeto de humana, como eu o quis e por que tanto lutei! ...esperança em que as overdoses de amor e carinho que tu estás tendo sejam mais fortes que as que tens tomado nas sarjetas onde há dez anos tens deixado, não pegadas ou passos, mas restolhos da beleza com que foste premiada pela natureza! ...já não tenho mais lágrimas e socorro-me do divino, dos teus irmãos e de tantos que te amam para continuar lutando por ti e acreditando em que o gen da luta que em ti inseminei ainda resfolegue nesta batalha inglória e insana que ora inicias ...na fazenda ... esperança!

São José, 24/09/2005 – 22:13h