13ª Carta
“Acho que agora vou desencalhar. Vocês não ficavam pegando no meu pé? Conheci Armando no chat, depois ficamos trocando e-mails, me mandou uma foto dele e tudo. A gente ainda não se conhece pessoalmente, mas já marcamos o primeiro encontro. É quinta feira que vem, ainda tenho quatro dias pra me preparar. Trocamos alguns dados pessoais, como telefone, endereço, pessoas da família, etc. Não propriamente "trocamos", porque ele está muito ocupado, de mudança do escritório e do apartamento, que ficam no Leblon, mas depois ele me manda os dados dele. Pois é, preciso me preparar porque desta vez a coisa é séria. Armando é um senhor de 50 anos, bonitão na foto, cabelos grisalhos, e a sua empresa, como me falou, vai indo de vento em popa. Ele me disse que o ramo é de propaganda, alguma coisa ligada com produtos que vendem muito bem pela internet. Você sabe que não entendo dessas coisas de computador e muito menos de empresa. Mal ou bem, escrevo e recebo minhas mensagens. Estou muito animada, ele disse que quer um compromisso pra valer, que logo vamos viajar pra Europa, onde ele está abrindo um negócio dele lá. Depois do encontro eu te conto tudo. Tá legal?
Até,
Cinara”.
Parabéns, Cinara! Agora vamos parar de pegar no seu pé. Pelo visto, alguém pegou você inteirinha! E Armando pegou você de jeito mesmo! Então ele é bonitão, senhor sério, bem situado na vida, quer um compromisso respeitável, levar você para a Europa? Caramba, você é de verdade uma mulher de sorte.
Você me diz que não há outro meio de se comunicarem a não ser pelo correio eletrônico. Por enquanto, nada de telefones ou endereço, não é verdade? Estou curioso para saber se em seus dados pessoais que enviou a Armando você incluiu o número de sua conta bancária. Com senha e tudo. Afinal, por que segredos? Ele é um senhor sério e talvez queira dividir com você os lucros da empresa, não é mesmo?
Não se preocupe com pequenos aborrecimentos de empresa, negócios no exterior e marketing. Deixe tudo por conta dele, vá e aproveite a sua vida. Talvez sequer precise se desgastar com a burocracia de seu retorno da Europa, basta providenciar o passaporte de ida que não tenho certeza se você volta.
Não desconfie de nada, que a insegurança é um estraga prazer. As promessas de Armando são a sua maior prova de amor. Porém, vá se acostumando à ideia de, ao desembarcar em um país que desconfio seja a Alemanha (os alemães adoram morenas “nativas do Brasil”) você ser apresentada a novas amigas, que irão chamá-la de ‘prima’; receber um novo nome (Armando talvez a convença tratar-se de uma nova vida - ao lado de seu novo amor, lógico!); ser instalada em um modesto apartamento junto dessas suas novas ‘primas’; perguntar-se por que razão Armando não a vê mais; passar a receber visitas de quem você jamais suspeitaria fossem procurá-la; descobrir-se funcionária de uma misteriosa mas influente empresa, repassar todo o seu salário a um executivo a mando de Armando - desculpe - e que você preferiria que continuássemos, aqui em nossa terrinha, a pegar no seu pé.
No mais, divirta-se e, caso retorne com o auxílio da polícia local e da nossa Embaixada, não esqueça de me trazer um ímãzinho de geladeira...
Dr. Golden.
“Acho que agora vou desencalhar. Vocês não ficavam pegando no meu pé? Conheci Armando no chat, depois ficamos trocando e-mails, me mandou uma foto dele e tudo. A gente ainda não se conhece pessoalmente, mas já marcamos o primeiro encontro. É quinta feira que vem, ainda tenho quatro dias pra me preparar. Trocamos alguns dados pessoais, como telefone, endereço, pessoas da família, etc. Não propriamente "trocamos", porque ele está muito ocupado, de mudança do escritório e do apartamento, que ficam no Leblon, mas depois ele me manda os dados dele. Pois é, preciso me preparar porque desta vez a coisa é séria. Armando é um senhor de 50 anos, bonitão na foto, cabelos grisalhos, e a sua empresa, como me falou, vai indo de vento em popa. Ele me disse que o ramo é de propaganda, alguma coisa ligada com produtos que vendem muito bem pela internet. Você sabe que não entendo dessas coisas de computador e muito menos de empresa. Mal ou bem, escrevo e recebo minhas mensagens. Estou muito animada, ele disse que quer um compromisso pra valer, que logo vamos viajar pra Europa, onde ele está abrindo um negócio dele lá. Depois do encontro eu te conto tudo. Tá legal?
Até,
Cinara”.
Parabéns, Cinara! Agora vamos parar de pegar no seu pé. Pelo visto, alguém pegou você inteirinha! E Armando pegou você de jeito mesmo! Então ele é bonitão, senhor sério, bem situado na vida, quer um compromisso respeitável, levar você para a Europa? Caramba, você é de verdade uma mulher de sorte.
Você me diz que não há outro meio de se comunicarem a não ser pelo correio eletrônico. Por enquanto, nada de telefones ou endereço, não é verdade? Estou curioso para saber se em seus dados pessoais que enviou a Armando você incluiu o número de sua conta bancária. Com senha e tudo. Afinal, por que segredos? Ele é um senhor sério e talvez queira dividir com você os lucros da empresa, não é mesmo?
Não se preocupe com pequenos aborrecimentos de empresa, negócios no exterior e marketing. Deixe tudo por conta dele, vá e aproveite a sua vida. Talvez sequer precise se desgastar com a burocracia de seu retorno da Europa, basta providenciar o passaporte de ida que não tenho certeza se você volta.
Não desconfie de nada, que a insegurança é um estraga prazer. As promessas de Armando são a sua maior prova de amor. Porém, vá se acostumando à ideia de, ao desembarcar em um país que desconfio seja a Alemanha (os alemães adoram morenas “nativas do Brasil”) você ser apresentada a novas amigas, que irão chamá-la de ‘prima’; receber um novo nome (Armando talvez a convença tratar-se de uma nova vida - ao lado de seu novo amor, lógico!); ser instalada em um modesto apartamento junto dessas suas novas ‘primas’; perguntar-se por que razão Armando não a vê mais; passar a receber visitas de quem você jamais suspeitaria fossem procurá-la; descobrir-se funcionária de uma misteriosa mas influente empresa, repassar todo o seu salário a um executivo a mando de Armando - desculpe - e que você preferiria que continuássemos, aqui em nossa terrinha, a pegar no seu pé.
No mais, divirta-se e, caso retorne com o auxílio da polícia local e da nossa Embaixada, não esqueça de me trazer um ímãzinho de geladeira...
Dr. Golden.