O depois de "Relaxa e Goza" - Carta dirigida à Marta Suplicy

Excelentíssima Ministra do Turismo,

Na verdade, se dependesse somente de mim começaria a carta por você, como se deve tratar qualquer pessoa que se faça íntima tal qual a senhora em seu último pronunciamento. No entanto, por questões de respeito e hipocrisia, devo me dirigir usando Excelentíssima ou então senhora, o que me frustra e demonstra o quanto se está acostumado a fingir que não vimos ou ouvimos nada.

Não é segredo para ninguém, muito menos na cena internacional que o país passa por uma de suas maiores crises no que se refere ao transporte aéreo e, conseqüentemente, ao turismo. Como se não bastasse a violência urbana de cidades como Rio e São Paulo, que come uma fatia de 7% do PIB nacional, fazendo com que o Brasil seja menos visitado que o Uruguai, ainda temos de suportar o tom jocoso da Ministra do Turismo que faz pouco caso e ri de todo o desespero pelo qual passamos.

Milhares de pessoas por dia enfrentam a frustração de ver seu vôo atrasado e assim permanecem no desconforto de um banco por horas. Provavelmente, a senhora não sabe o que significa passar por uma situação do tipo, já que como todo envolvido na farsa política de governar o país, tem um avião particular à sua disposição e de seus familiares e assessores. Mas, cara ministra, tente imaginar o quanto é decepcionante constatar que o turismo passa a integrar o rol dos serviços que deveriam funcionar pelas mãos do governo e que simplesmente não funciona. Tente imaginar que pior do que o país deixar de lucrar, é perdemos dinheiro, tempo e paciência com um problema de solução um pouco complicada. Um pouco mesmo, temos problemas bem maiores que a senhora não desconhece.

Minha ministra, com toda a maestria que possui e com todo o respeito que ainda tenho pela sua pessoa, creio que a solução não esteja em relaxar e gozar. A frase dada como um conselho cairia muito bem se fosse dada a um casal com disfunções sexuais no seu consultório de sexóloga ou em um de seus majestosos livros. Sinto informá-la que o caso do Brasil é bem mais sério, temos disfunção com certeza, disfunção educacional, disfunção no sistema de saúde, disfunção para conseguir um emprego que dê a nossos filhos a vida mais digna possível. Agora, graças a pessoas como a Excelentíssima Senhora Ministra, apresentamos em rede internacional a mais nova disfunção brasileira, a disfunção aérea.

Queira desculpar-me se em algum momento feri a sua profissão de sexóloga ou fiz com que ela parecesse menos importante do que de fato é. E em nome dos meus compatriotas, mesmo os que não se pronunciam, digo que o desrespeito de “Relaxa e Goza” ainda está atravessado na garganta junto a outras tantas improbidades políticos que bem-humorados e bem pagos vêm cometendo há incontáveis anos.

Como ia dizendo, peço perdão se menosprezei a sua profissão. E me arrisco a dizer que a senhora deve se sair muito bem nela, contrariando o seu atual desempenho na administração das questões do Ministério do Turismo. As relações sexuais são reconhecidamente importantes para o brasileiro e o gozo tão relevante quanto, sendo um dos únicos prazeres do qual podemos desfrutar sem que o governo nos peça nada em troca. Em um futuro problema neste estilo, estamos gratos pelo conselho e fica a promessa de executá-lo à risca. Ministra, isso a gente já sabe. Quem não sabe aprende.

O que se espera depois de um momento tão conturbado não é, apenas, um pedido de desculpas. Ministra, isso não resolve o problema. Palavras uma vez ditas são pregos na parede, sem volta. Se não fosse preocupante, poderia se chamar de patético.

Por fim, respeitada Ministra do Turismo e Sexóloga Marta Suplicy, a nação deixa um conselho para a resolução dos seus remanescentes surtos de humor: Sente e relaxe, e mais uma vez goze, do dinheiro e da cara de todos nós.

Com todo o respeito que esperamos de agora em diante e ansiosa por revê-la. Até as próximas eleições.

Ranieri, G.