CARTAS QUE NÃO MANDEI

(Carta a um Poeta)

Prezado Poeta, e

caro conterrâneo.

Hoje é dia do seu aniversário e a data toca-me a sensibilidade.

Você é alvo de minha admiração, de há muito. Sei que não me conhece nem há razão para que me conhecesse, porém temos algo em comum: somos itabiranos.

Ser itabirano é ser sensível, é captar no cotidiano, com alma e coração, as mensagens maravilhosas que emanam e fluem de tudo quanto você diz.. Sou itabirana em alma e coração e, embora ausente da terra querida, retorno sempre por lá.

Sei avaliar a razão de sua fuga, procurando guardar na retina apenas a imagem da nossa Itabira colonial. Sinto a mesma tristeza que imagino você sinta, mas se esquiva em mostrar (dado o seu gênio avesso a demonstrações) - quando retorno à minha terra e sinto o desencontro com as minhas mangueiras, hoje ruas e desvios, a Matriz, apenas um largo vazio, sem sino e sem coroações de Nossa Senhora, o Poço da Água Santa, hoje rodoviária, o Cemitério da Saúde, onde hoje só há lojas comerciais e, sobretudo o Cauê, - ai - como dói sentir que o Cauê dolorosamente desapareceu...

Mas hoje é um dia especial e não quero falar de tristezas...

Quero mandar-lhe, através desta, minha palavra de admiração e agradecimento pelos momentos maravilhosos que você nos propicia e pedir a Deus que lhe conserve o espírito lúcido, analista e brilhante.

A minha mãe foi de sua geração e a de seu irmão que, apaixonado, fez o impossível para vê-la eleita a mais bela jovem de Itabira. Talvez não se lembre, mas isso agora não importa.

Evoco-a porque tudo o que li hoje no ‘"ESTADO DE MINAS" fez-me lembrar também dela, agora só lembrança e saudade em minha sensibilidade.

Evoco também minha tia-avó mencionada como sua professora que conheci como protótipo da matrona enérgica, cônscia de suas responsabilidades de mestra e, por que não dizê-lo, “bicho-papão” de várias gerações dos bancos escolares.

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Falo com saudade e emoção, quando pretendia falar-lhe somente de alegria. Culpe o nosso jornal de hoje, 31/10 e me desculpe.

Amo a arte como expressão do belo e amo sua poesia como expressão máxima da arte.

Parabéns, Carlos Drummond de Andrade, e um carinhoso abraço.

Carolina

Linandre
Enviado por Linandre em 26/06/2007
Código do texto: T542247