Carta póstuma a um amigo.

Carta póstuma ao amigo Janjão.

Meu pai sempre dizia, que a partir de uma certa idade, nós iríamos morrendo aos poucos.

Que cada amigo ou ente querido que nos deixava, em troca da eternidade, levava um pedaçinho de nós.

Talvez essa seja a nossa preparação para a inexorável partida.

A despeito do que acontece do outro lado, a ausência nos trás lembranças e saudades, mesmo porque já não é mais possível rever, falar, abraçar ou mesmo dar um aperto de mão.

Nessas horas, nos damos conta da lacuna que esse amigo criou, e com a perda, vem também o sentimento que poderíamos ter convivido mais, dividido mais, alegrias e demais sentimentos.

Perdi um amigo esta semana, fiquei sabendo na noite passada.

Foi desses amigos que todos nós temos, que convivemos anos no mesmo local de trabalho, com quem tivemos horas intermináveis de convivência, que soubemos, dos problemas uns dos outros, que compartilhamos alegrias e tristezas.

As esquinas da vida nos separam, e nós, invariavelmente, não cuidamos dos bens que construímos , cobramos fidelidade sem dar a nossa parte.

A distância nos dias de hoje, não é impecílio a comunicação, haja visto que a internet derrubou todas a barreiras de tempo e espaço a que estávamos acostumados.

Os amigos no passado se comunicavam através de cartas, que demoravam até meses a chegar ao destino, e quem de nós não presenciou alguém mais velho relendo velhas cartas de entes queridos, remexendo o baú de lembranças em busca do remédio à saudade.

Faço me hoje, na tristeza da solidão de um hotel, a reflexão da importância da comunicação, e do questionamento, do: “quem ama cuida”.

Não basta que amemos nossos amigos, devemos cuidar mais dessas amizades, se não todos os dias, porém o mais freqüente possível.

Mais cedo ou mais tarde, partiremos todos; os que ficam sofrem duplamente, da falta física e da culpa, que deveríamos ter cuidado melhor dos amigos, falar mais com eles, participar cada vez mais dos sentimentos, brincar, enfim aplacar as dores inevitáveis que advém da idade, dos descasos normais da sociedade, escorar uns nos outros, afinal somos amigos, ou deveríamos ser.

Sinto falta que todos, mesmo daqueles que não compartilho segredos, que nos encontros, nos dão somente um aperto de mão ou aquelas perguntas simples, de como vamos indo.

O que importa é adicionar amigos, os que perdemos não são repostos ou substituídos, a perda é contabilizada somente como perda.

Me perdoe Janjão, fui negligente contigo e com a maioria dos amigos que cultivei ao longo dos anos, poderia ter sido mais presente.

Hoje, com a noticia de sua partida, senti um vazio na alma que não tenho como justificar ou preencher.

Somente fiquei sabendo da sua doença, com a noticia da sua morte, falha minha, deveria ter sabido muito antes, para como amigo compartilhar contigo a dor do inevitável.

Ficou a lição, preciso de vocês como um dia precisarão de mim, pois sempre dependemos uns dos outros, ninguém se basta.

Jânio Ricardo Machado (Janjão), trabalhou comigo por 8 anos , além de grande pai de família, foi uma pessoa extremamente generosa e de bem com a vida.

Vários de nossos amigos, o conheceram como eu, e com certeza também devem estar chocados com sua partida prematura.

Seu amigo Lune

Lune Verg
Enviado por Lune Verg em 29/06/2007
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