CARTA A ESCRITORA ILIELY

CARTA A ESCRITORA ILIELY

HERIBALDO DE ASSIS *

Sei que não é fácil ser uma mulher liberada em um mundo ainda machista e repleto de preconceitos – sobretudo para uma mulher que escreve contos eróticos e expõe seus desejos mais inconfessáveis. Há pouco tempo atrás uma mulher não podia sequer gemer na cama durante o ato sexual - pois isso era considerado, pela sociedade machista, uma grande falta de pudor... Sou um grande admirador de mulheres que escrevem contos eróticos – muitas são, infelizmente, criticadas por isso - algo que denota que, em pleno século XXI, ano de 2015 – o machismo, a ignorância e o preconceito ainda persistem...

Além da opressão de uma sociedade machista, a mulher é extremamente vulnerável a uma série de riscos pois , para essa sociedade, a mulher não é dona do próprio corpo e nem do próprio destino – muitas mulheres sofreram estupros e até foram mortas simplesmente porque queriam ser donas dos seus próprios destinos – algo impensável no século passado pois o destino feminino (assim como o corpo da mulher) pertenciam ao pai e ,depois, ao marido...Era muito comum, no século passado, os hediondos “crimes em defesa da honra” serem absolvidos nos tribunais – pois o marido que matava a mulher adúltera (ou presumivelmente adúltera) era inocentado...O divórcio também constituía praticamente um tabu para as mulheres dos séculos passados – havia, juridicamente e religiosamente, uma série de entraves que dificultavam o direito de uma mulher obter o divórcio, a separação conjugal e carnal do parceiro (e até ficavam correndo o risco de morte por continuarem convivendo com violentos parceiros!)...

Atualmente, as mulheres possuem uma maior liberdade,uma maior inserção no mercado de trabalho, além de uma série de anteparos jurídicos (como a Lei Maria da Penha) – contudo, esses fatores ainda não parecem ser suficientes para dirimir os nefastos efeitos de uma sociedade ainda machista, patriarcal e feminicida : muitas mulheres continuam sendo estupradas, mortas ou linchadas moralmente através das redes sociais...

O machismo tornou-se um mal entranhado em nossa sociedade e, até mesmo, dentro da própria mente feminina – pois, muitas vezes, conscientemente ou inconscientemente, a mulher colabora para a propagação e auto-sustentação desse mesmo machismo: na Indonésia, por exemplo, uma mãe matou o próprio filho de 9 anos afogado simplesmente porque ele tinha o “pênis pequeno” e essa mãe dizia-se estar “preocupada com o futuro do menino por ele ter um pênis pequeno”...

Machismos abomináveis como esse ainda persistem porque as mulheres assim o permitem – cabe a mulher (enquanto mãe) educar seus filhos para que eles não sejam machistas e educar suas filhas para que elas não se submetam ao machismo e nem sejam meras reprodutoras ou meras depositárias de espermas de homens machistas. O conceito de masculinidade também é algo que precisa ser revisto pelas mulheres - pois ser homem é ter caráter, ética, honestidade, generosidade e respeito ao próximo – ser homem não se resume a colocar um órgão sexual dentro de uma mulher...

Cabe a mulher (enquanto reprodutora da vida, enquanto educadora) decidir que geração de homens e mulheres teremos no futuro – caso contrário as mulheres (por serem mais vulneráveis) continuarão sendo vitimizadas por esse machismo perverso que aprisiona, discrimina, crucifica e mata...

* Escritor, Poeta, Filósofo, Compositor, Redator-publicitário , Roteirista e Licenciado em Letras pela Uesc - Universidade Estadual de Santa Cruz. herisbahia@hotmail.com

Heribaldo de Assis
Enviado por Heribaldo de Assis em 27/12/2015
Reeditado em 27/12/2015
Código do texto: T5492339
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.