AVE MARIA schubert

Havia tempos não ouvia a Ave-Maria entre tantas escutadas.

Lembrem-se escutar não é a mesma coisa que ouvir...

Agora no meu silêncio e com as energias de todos os participantes da cerimônia que também ouviam no silêncio de cada um, ouvíamos: Ave-Maria de Schubert.

Voltei na minha infância. É que na infância eu como muitos da minha geração tínhamos uma educação centrada nos valores morais e espirituais e com a firmeza dos pais na retidão da disciplina na educação, lembro que participava com todo entusiasmo das celebrações religiosas na paróquia no bairro que morava.

A revolta da primeira juventude fizera me manter afastado e sem nenhuma crença em qualquer prática religiosa e ou espiritual, mantendo-me com desprezo e também certa cólera.

O tempo foi passando e foi também abrandando todas as minhas incongruências.

A meditação me fez reconhecer e me redimir de alguns de meus embaraços e fui regozijando sentindo ressuscitar a criança que subsistia escondida em mim. Ouvia com atenção as músicas da infância polindo o meu ser, na mais perfeita melodia, refazendo na mesma poesia que as profundezas escarafunchavam e traziam em lágrimas doces que ao meu rosto banhava sem serem prantos, nem mesmo os anjos compreenderiam naquela hora!

A virgem Maria tocava-me na mais alta sinfonia, que só os meus ouvidos ouviam, me acalentava em cada verso em cada palavra em cada nota musical em todos os milímetros de energia que eu sentia.

A arte é um encantamento mágico e a música nos leva ao divino