Inconsciente, pensante.

Agora, te olho. Com olhos de observador. Atento. Estou seguindo cada passo teu. És fugaz, cruel, salvador, desconcertante, aniquilador e aniquila a dor. Te olho agora e logo não estás. Sucede de novo outra vez em tantos outros, e dissolve-te. Aqui estamos por anos. Indissociáveis.

Antes, "tu eras eu". Controlador, julgador, crítico. Todo caminho apontavas. Ou melhor, conduzias. Com crenças e memórias te associaste. Eram pares constantes ávidos por fomentar o Ego que se sobrepôs ao verdadeiro eu, dizendo-se "o protetor de todos". Para cada equívoco uma justificativa. Para cada justificativa um julgamento/crítica, e então desencadeando ações medrosas, iradas, vingativas, sarcásticas... Enfim.

Agora te olho. Com olhos de observador. Mas, esvazias. Em sendo percebido colocas em cheque o Ego que, dissolvido em si mesmo, calasse. Percebes que os alimentos do ego foram apenas tantas obras tuas. Ao serem observadas de mais perto estas criações tornaram-se amistosas e elucidativas ao observador, que as acolheu: "sim, medo"; "sim, sarcasmo"; "sim, vingança"; "sim, ira"... E foram tantos outros "sins" sem resistência que a consciência se iluminou com os olhos do observador.

É com a luz que a escuridão sucumbe amplamente dominada. E assim tu, sob a luz do olhar observador, comporta-te e és suave, límpido, edificador, inspirado e inspirador. Luz que transmuta para o amor. És breve e te aliaste ao Eu que observa, tornando-te um reconfortante vazio meditativo, contemplação, paz interior.

Estamos bem. Agora mesmo te observo. E descanso.

Anselmo Verissimo
Enviado por Anselmo Verissimo em 26/05/2016
Reeditado em 26/05/2016
Código do texto: T5647143
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