A CARTA QUE EU GOSTARIA DE TE ESCREVER

Oi, pai

Já é Natal de novo e eu tenho tanta coisa pra te contar. Tantas coisas aconteceram depois da última vez que estivemos juntos – se bem que eu era tão pequeno, que nem me lembro daquela época, mas a mãe sempre me falou tanto de ti, que as lembranças dela hoje já são as minhas também.

Meus primeiros anos na tua ausência não foram os melhores, mas superei todos eles graças à esperança de que, um dia, pudesse ser metade do que foste. Fui para a escola e aprendi a lidar com as letras para poder escrever a minha história, pelo menos, um pouco parecida com a tua. Mesmo tendo ficado tão pouco tempo comigo, deixaste uma herança valiosa: tua perseverança, tua honestidade, teu amor ao próximo e à família. Tudo isso tenho tentado transformar nos pilares da minha caminhada por aqui, embora saiba das minhas limitações e de que os erros são inevitáveis. Nos bons e nos maus momentos, sempre foste meu apoio, minha fonte de inspiração.

Olha, pai, fizeste muita falta ao longo de todos esses anos, mas, ao mesmo tempo, apesar de distante, sei que estavas aí, em algum lugar, olhando por mim. Alguns dias sempre foram muito complicados para mim sem estares aqui comigo. Dia dos Pais, Aniversário, Natal são datas em que a tua ausência pesava – e ainda pesa – demais. No entanto, isso tudo ficava menos sofrido quando ouvia a mãe dizer frases como “Tu és igualzinho ao teu Pai!”. E ela dizia isso de uma forma que me fazia sentir orgulho de ser parecido contigo.

Gostaria muito que estivesses na minha primeira foto no colégio. Sabe aquelas que toda criança tira quando está na quarta ou quinta série? Pois é. Eu a guardo até hoje, mas tu não estás lá. Olha, não estou reclamando, pai. Só queria que soubesses que ela teria ficado mais bonita se estivesses lá comigo, se pudesse olhá-la agora e te ver segurando a minha mão.

Sabe, pai, outro dia estava olhando as fotos da minha formatura na faculdade e também não pude te ver nelas. Que pena! Mas tenho certeza de que me olhavas naquele momento tão importante e que devias estar feliz por me ver vencer na vida. Afinal, foi uma conquista que me custou muitos sacrifícios, mas que valeram muito a pena. É claro que eu não poderia me esquecer de te contar que tenho uma filha – meu maior tesouro – a quem dedico minha vida, como certamente terias feito comigo se não tivesses que ir embora tão cedo. Mas eu sei que a vida é assim: começa e termina quando tem de ser, e a tua, apesar de tão bonita, foi também tão breve.

Obrigado, pai, por todos os dias em que estiveste comigo, por me ensinar que fazer o bem é fundamental, por me mostrar que a presença física não é imprescindível, mesmo que a ausência traga uma saudade tão grande. Obrigado pelo pai que foste em vida e pelo exemplo que te tornaste depois. Deus permita que minha filha se lembre de mim um dia com o mesmo orgulho com que me lembro hoje de ti.

Olha, pai, sei que não há como te mandar essa carta, já que não há correios por aí, mas sei também que os mistérios do universo são tantos e torço para que, por meio de um deles, fiques sabendo de tudo isso que estou te contando agora. Assim vais poder ter consciência do bem que me fizeste e ainda continuas fazendo.

Sei que deveria ter feito isso há muito tempo, e peço que me perdoes por isso, mas só hoje me senti pronto pra te escrever.

Do filho que vai te levar no coração pra sempre

Everton Falcão
Enviado por Everton Falcão em 29/06/2016
Código do texto: T5681815
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