Carta ao meu filho Lúcio

Querido Lúcio, você está coberto de razão. Realmente a internet é uma realidade na vida das pessoas. É o meio de comunicação interativo mais difundido, não há dúvida. Os motivos são aqueles que conhecemos bem: de forma geral se relacionam a facilitação no trabalho e à comunicação entre pessoas. É óbvio que não poderia ser diferente. Mas também percebo que o que mais atrai, na verdade, é a forma como essa comunicação é realizada: expressa-se (ou mostra-se) o que se quer, sem ter que encarar as pessoas, sem precisar olhar nos olhos de quem se dirige. Não é maravilhoso! somos como moscas no açúcar. Não importa de onde o açúcar venha. Pensando nessa forma "impessoal" ou "indireta" ou, ainda, "animal" entendo que é como se enxergássemos o mundo na "pele" de um robô: indentificam-se e processam-se simplesmente sinais gráficos, é a virtualidade a flor da pele da ponta dos dedos. É como se nossa percepção humana fosse (ou coubesse) dentro de uma caixa (a CPU) e víssemos o mundo de uma única janela que nos mostra quase tudo (o monitor). Mas não podemos tocar em nada, sequer sentir o cheiro. A todo instante recebemos mensagens, fotos, vídeos, que vem do outro lado, de pessoas contando suas histórias, mostrando-se (às vezes tudo) mas não vemos ninguém ao vivo. O que vemos, na verdade, são representações gráficas de rostos. Às vezes se movimentam pelos vídeos e Web cam’s da vida, mas não há a percepção de haja expressão de verdadeiros sentimos, o olhar no olho, o abraço, o beijo, o sorriso em todas as dimensões possíveis, à lágrima molhada.

Por falar em lágrimas e sorrisos no mundo da internet, já não somos mais páreos para os robôs de filmes americanos, eles choram e todo mundo vê, eles riem e todo mundo acha graça, coisas que os humanos escondidos, com cara quadrada (de monitor), já não podem mais demonstrar sob o risco de se mostrarem "desconectados". Nos divertimos uns com os outros na grande rede. Na rua não nos reconhecemos, não olhamos no olho de ninguém. É perigoso ser gente. São cidades inteiras tomadas por exércitos de estranhos que vivem uma estranha felicidade, tanto que muitos matam os outros, outros matam-se a si próprios.

Enfim, vivemos a realidade da consolidação do materialismo consumista, achando que consumimos a internet enquanto ela nos consume vorazmente. Assim se vive hoje neste planeta doente, assim “navega” a humanidade. Como dizem por ai, "se cada um fizer a sua parte..." eu acho que logo, logo, o contato humano estará banido.

Agora pergunto, meu filho: pelo bem ou pelo mal?

Djalma

Julho/2007

Djalma João da Silva
Enviado por Djalma João da Silva em 18/07/2007
Código do texto: T570432