Sobre o ato de ler

Minha cara Luce

Alguém disse uma dia que viver ultrapassa qualquer mistério. Eu creio que isso é verdade, mas sinto que há muito a se descobrir, embora a própria vida se encarregue de enigmizar todos os seus conceitos.

Quero salientar, Luce, o ato de ler. Ler ultrapassa o fato de codificar e decodificar. Vai além. Ler é tomar posse de algo.

Bem mais profundo é o fato de beber a alma de alguém pelos olhos. Luce, esse é um mistério profundo.

Um dito popular afirma que os olhos são o espelho da alma. Através deles podemos perceber as histórias de antes e de agora de alguém. É quando tomamos posse do outro, esquecendo-nos de nossa própria vulnerabilidade, ou seja, lemos e somos lidos o tempo todo.

Nossa interpretação depende de quando olhamos o que vamos ler. O pensamento mascara a imagem e acabamos por ver aquilo que queríamos ver de forma distorcida. É quando julgamos o outro a nosso bel prazer.

Por essa razão, o espelho reflete de nós tudo o que realmente somos com manchas, percalços, cores, rabiscos, dissabores. Dizemos, inclusive, que ele é cruel, quando o que ele faz é ler o que realmente somos.

Enrolei-me, não foi, Luce?!!!

Eu sei. É que ler também nos faz imaginar, viajar, tele transportar, ir e vir sem sair do lugar. Ler nos leva a escrever, e é nessa hora que parecemos sair do corpo, podemos perceber o real a partir do virtual.

Complicado, eu sei. Mas... O que me diz, Luce?

Beth Ferreira, 23.08.2016