CARTA Á CAPITU

Essa ausência de nos, nesta ratoeira presa num buraco da parede. Sempre o proibido em digerir o coração. Sua língua ferina feita para ser torta e direita para ser Imóvel. Variedades de outros carnavais. Não quero você como espetáculo do sol, índia branca, é certo que um de nos partira hoje. Foram mil noites e o canto de um gemido longo e terminal. Meu pranto em ciclo foi nas ondas do seu mar. Perversa mulher, que planta seu inferno em meu céu. As vestes do seu corpo estão espalhadas na areia fria da praia. Sua pele estendida na pedra da gávea ficara putrefata e o motivo é você, aurora de um deus qualquer. Morro na cor do fogo e um beija flor atormentado pelos seus vendavais geme ais. A vida ao lado, geme nossos ciclos em guerra. O sono de Vénus que em sua retomada fez pequenos reparos e em meu nome que grita pela casa, O que você quer, Capitolina? As onze estrelas que brilharam sobre seu seio? A porta aberta que grita por sua tramela? Os Lobos que uivam seu nome? A linha imaginaria de sua gruta? O luto da lua, essa poltrona vermelha que chama por seu corpo nu? O anjo que canta por nos? Os amores impossíveis de seu amante que vaga e me tormenta a todo tempo? As nove luas que pararam diante de seu sonho? A cor cinza do vendaval que ladra na madrugada como a um cão vadio? A metrópole que dorme em silencio sepulcral? Por que capitolina? Pois nossos caminhos nos são opostos no jogo da vida e de seu lenço úmido pinga do varal a gota do seu sereno amargo. A rapina voa, Sobre a vida que por um fio perece. Você voa, Sobre a cabeça do meu eu valente. A rapina voa sobre meus músculos de Hércules. Você voa com possessa fome de minhas carnes. A rapina voa,sobre a ultima casa da vila e eu sou apenas mais um pião em seu tabuleiro.