A GENEALOGIA DE JESUS

Carta 199

A GENEALOGIA DE JESUS

Um irmão, pastor evangélico em Santa Catarina (Blumenau)

pede alguns subsídios sobre a “genealogia de Jesus” constante

no capítulo 1 do evangelho de Mateus.

Caro amigo,

Mais do que uma simples relação de pessoas que compõe sua genealogia, a lista dos ascendentes de Jesus traz, além do fato histórico, uma mensagem que enseja uma reflexão capaz de conduzir os leitores a algumas conclusões a partir da exegese do texto. Vamos ao texto bíblico, para começar:

Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. Abraão foi o pai de Isaac; Isaac foi o pai de Jacó; Jacó foi o pai de Judá e de seus irmãos. Judá, com Tamar, foi o pai de Farés e Zara; Farés foi o pai de Esrom; Esrom foi o pai de Aram. Aram foi o pai de Aminadab; Aminadab foi o pai de Naasson; Naasson foi o pai de Salmon. Salmon, com Raab, foi o pai de Booz; Booz, com Rute, foi o pai de Jobed; Jobed foi o pai de Jessé; Jessé foi o pai de Davi. Davi, com aquela que foi mulher de Urias, foi o pai de Salomão.

Salomão foi o pai de Roboão; Roboão foi o pai de Abias; Abias foi o pai de Asa. Asa foi o pai de Josafá; Josafá foi o pai de Jorão; Jorão foi pai de Ozias. Ozias foi pai de Joatão; Joatão foi o pai de Acaz; Acaz foi o pai de Ezequias. Ezequias foi o pai de Manassés; Manassés foi o pai de Amon; Amon foi o pai de Josias. Josias foi o pai de Jeconias e de seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia.

Depois do exílio na Babilônia, Jeconias foi o pai de Salatiel; Salatiel foi o pai de Zorobabel. Zorobabel foi o pai de Abiud;

Abiud foi o pai de Eliaquim; Eliaquim foi o pai de Azor.

Azor foi o pai de Sadoc; Sadoc foi o pai de Aquim; Aquim foi o pai de Eliud. Eliud foi o pai de Eleazar; Eleazar foi o pai de Matã; Matã foi o pai de Jacó. Jacó foi o pai de José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Messias.

Assim,as gerações desde Abraão até Davi são catorze;de Davi até o exílio na Babilônia, catorze gerações; e do exílio na Babilônia até o Messias, catorze gerações (Mt 1, 1-17).

O que nos á dado observar nessa relação é a presença dos mais variados tipos sociais de Israel, como reis, patriarcas, líderes do povo, pastores, sacerdotes, homens comuns... Davi, por exemplo, foi rei em Israel: talvez o mais famoso deles; José, esposo de Maria, era um tékne, operário (carpinteiro). Sempre que escuto falar na Genealogia de Jesus recordo com carinho Dom José Maria Pires, Arcebispo Emérito de João Pessoa, que em 1982 nos rollos (palestras) do Cursilho falava nas pessoas ricas e humildes daquela nominata.

À lista dos reis aberta com Davi seguem-se outros importantes monarcas como Salomão, Roboão, Asa, Josafá. Jorão. Ezequias, Josias e outros. Dentre os reis se constata a presença de pessoas piedosas e tementes a Deus, com também de reis ímpios, cruéis, indiferentes à miséria do povo.

Há também na relação de ascendentes de Jesus pessoas simples, gente do povo, sem maiores títulos sociais ou distinções econômicas, talvez para mostrar a todos nós, que no futuro iríamos refletir e estudar a genealogia do lado humano do Filho de Deus, que uma história pessoal se faz com antecedentes de todas as colorações humanas, qualidade diversas, como, aliás, se constitui uma sociedade, onde há gente de todos os tipos, raças e condições sociais. Jesus veio ao mundo, encarnou-se, tornou-se homem para assumir em si um pouco de cada um de nós, nossas virtudes, misérias e esperanças.

Chama atenção no texto ora em estudo a presença de cinco mulheres: Tamar, Raab, Betsabá, Rute e Maria. É coisa rara uma mulher ser mencionada em uma genealogia palestina, naquelas sociedades nitidamente machistas, onde em geral só constavam nomes de homens: por quê? O que têm elas de diferente para constar numa relação tão importante como a dos familiares do Messias? Todas elas são mulheres com algum tipo de fator de exclusão, de “defeito”.

Tamar era uma mulher de atitude moralmente irregular. Depois de viúva ela se fingiu de prostituta para seduzir Judá, seu sogro, com o fito de ter um filho com ele.

Raab era a prostituta de Jericó que acolheu os espiões israelitas que foram a Canaã ver as condições para a invasão.

Betsabá (a adúltera), nem é citada nominalmente na Escrituras. Ela apenas aparece como “a mulher que foi de Urias”. Cometeu adultério com Davi sendo, posteriormente mãe do rei Salomão e figura central nas intrigas da corte.

A quarta mulher que o autor da genealogia faz referência é Rute, a moabita. Como estrangeira ela também é vista como pessoa impura, e passível de exclusão naquele tipo de sociedade nacionalista.

E Maria, qual seu defeito? Maria, a mãe de Jesus, a última das cinco mulheres da genealogia era pura e sem mancha, mas sua pobreza e seu local de nascimento (Nazaré) não a credenciava como alguém importante, e isto no meio de uma nominata de tantas pessoas de destaque, se tornou fator de exclusão.

A tônica da vida e do ministério de Jesus é a humildade e o serviço. Desde a profecia veterotestamentária se destaca a promessa de um Rei (nobreza) montado em jumento (pobreza, humildade). José, o esposo de Maria tem na humildade e no silêncio os pontos altos de sua virtuosa personalidade. De tudo isto, desde as mulheres excluídas por esse ou aquele motivo e pelo exemplo de José, somos capazes de descortinar a lição de Jesus que decidiu estabelecer sua vida humana no meio de pessoas com virtudes e defeitos (alguns até bem graves), para mostrar que tudo aquilo faz parte dos altos e baixos de uma humanidade que carece de apoio, amor e perdão, justificando a encarnação para redimir e salvar. Por causa de pessoas imperfeitas e incompletas, iguais as que vimos nessa genealogia, é que ele se fez homem, sofreu, morreu e ressuscitou.

Obrigado, um abraço e

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