CARTAS DE lISBOA
CARTAS DE LISBOA
MAIO/2015
PIODÃO
Mês de Maio florido como é sempre. As maias são o mote do mês, e lançam um odor adocicado na atmosfera. Primavera à nossa roda, flores silvestres, amarelas, brancas e roxas atapetam as encostas.
A estrada encurva-se ao jeito da montanha, a descida é acentuada, é uma vertigem de medo e prazer o querer e não querer inclinar o olhar à profundidade. Lá baixo ao fundo regos e regatos fazem curso escuso entre brenhas verdes e vão encher o Alva, um filho do Mondego.
Finalmente após tantas curvas, tanta declitude os ouvidos estalam devido à rápida alteração
da pressão atmosférica e surge a aldeia de xisto que é um presépio, ou melhor uma cascata de casas cinzentas com telhados de lousa negra.
Em busca de tempo perdido, caminhamos nas vielas do povoado. Os turistas são muitos, os habitantes raros. Uma natural da terra, mas de visita colocava uma pequena cruz de Santo André no lintel da porta da sua casa desabitada há muito como quase todas.
Indagada recordou-me que neste dia anda o diabo a solta e é preciso colocar a cruz de Santo André nas portas e janelas. È uma garantia contra o mafarrico. Hoje o costume popular é uma tradição, que se não tem efeito, enfeita as portas e as vidas de quem as atravessa e percorre.
Na cidade são mais comuns as apólices de seguros, mas aí o diabo entra na mesma pelas
entrelinhas.
O Piodão é agora um postal ilustrado que percorre o mundo, mas no reverso do postal esta outra realidade, uma espécie de museu que se debate para viver para além da época estival.