Carta de um domingo de ausência

É que hoje é domingo, e como de costume te escrevo cartas, sem rimas e contextos, claro. Bem, eu queria te falar que apesar dos meses que sucedem nosso desencontro, estou seguindo em frente como mandaste.

Sabe aquele show daquela minha banda preferida? Pois é, fui mesmo sem você, e nossa, vibrei e não minto que em alguns momentos senti tua falta, mas nada que a companhia de velhos amigos não a confortasse, suprir não, afinal nada supre a falta de um grande amor.

Sabe aquele shopping que costumávamos almoçar nos domingos e depois passear sem nenhum puto na carteira sequer, mas só pelo prazer da companhia do outro? Pois é, também fui sem você. E confesso que me senti em outro planeta por estar ali sem você, como diz Cazuza: me senti mais perdida do que cego em tiroteio, de fato, como de fato costumo citar de fato nos meus escritos.

E assim estou indo sem você por todos esses meses, mas te digo que não há um só dia, sequer um só milésimo de pensamentos que tu não me venhas a cabeça com aquele meu sorriso preferido teu. Sinto falta do teu bom dia e dos nossos planos de morar num porão naquele país distante e termos um cachorro, como planejado e depois casar no campo.

Sabe aquele dia especial pra você? Lembrei e chorei por não estar ao teu lado, mas nem imaginas o quanto eu estava lá vibrando por você através do meu bobo coração. E tantos outros eventos que estaríamos juntos, eu ainda lembro como um vento que acabou de soprar meu rosto e quase levantar meu vestido.

Não tenho tido notícias suas, não sei se por um lado é bom ou não, talvez realmente seja bom, pois fiquei sabendo que estás seguindo em frente, estás com outra pessoa, e no meu coração apesar da dor e da saudade, eu só queria te dizer que quem ama deixa o outro partir pra ser feliz, e te quero feliz.

Te confesso que ainda sei de cor a placa do teu carro, assim como exatamente tua altura e número de sapato. É bobagem, sei, mas ainda passo em vitrines e te lembro, porém entristeço por não ter a quem comprar aquilo tão bonito que a vitrine atrai e que simplesmente é a sua cara.

Não sei se a hora certa pra dizer adeus a este passado é agora, uns dizem que sim, na verdade têm certeza, porém eu não. Não sei se ainda terei que esperar o verão chegar pra no inverno me aquecer com tua lembrança, ou não sei se devo apenas esperar o tempo, que não tem tempo que faça ele passar. Tempo é tão infinito e tão distante quanto nós dois ao mesmo tempo.

E pelas confissões tão melancólicas feitas e lamúrias citadas, não vejo a hora do ano acabar pra que todas as lembranças virem um antiquário. Porém não sei como passarei o natal sem ti, tampouco como irei assistir a queima de fogos feito uma criança e brindar ao amor como costumávamos fazer, sem ti. Não sei, mas sei que resistirei a essa traça do tempo impregnada no meu presente, como falo numa de minhas poesias.

É, e hoje é domingo, estaríamos juntos por entre cobertores e contando qualquer piada ou rindo de bobagens alheias qualquer, tomando um chá após ter exagerado no almoço de família dos domingos. Parece mesmo piegas, mas foi nessa simplicidade que inexoravelmente, assim mesmo tão formal como por algumas vezes costumo ser em meus escritos , vivenciei a plenitude de ter alguém que entendesse minhas peripécias e me amasse mesmo assim, eu tive um grande amor e poderei contar para todo mundo um dia.

As vezes, confesso de novo, paira a duvida, será que amastes a mim? E logo passa quando lembro que teus olhos cor de mel falavam tudo, eu fui seu amor um dia sim! Desejo ser um dia de novo, quem sabe, mesmo que aos 90 anos, ou amanhã de repente.

A vida não para com uma ausência, por vezes essa ausência faz dar pausa. É que o amor por vezes machuca e dói. Enquanto isso, prometo seguir em frente , mesmo com tua ausência aos domingos.

Marinara Sena

23/10/2016

22:42 Pm

Marinara Sena
Enviado por Marinara Sena em 24/10/2016
Reeditado em 24/10/2016
Código do texto: T5801253
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