Eu não quero lembrar, mas eu lembro.

Eu sempre me lembro daquele verão. Local calmo, margens estranhas, molduras velhas. Mas é sempre bom voltar o pensamento para quem te guarda. E até quando guardará?!

Ninguém sabe se os pensamentos se mantêm no infinito. Mas não faz diferença quando se é e sabe, reconhece-se em meio a tantos outros. Fiz uma canção para você.

Não sei se beija como beijou a lembrança que resta. Apagou? Tantas fases e as mesmas memórias, retidas, escondidas como no fundo da gaveta, daquele armário velho. Ainda existe o ranger da porta a noite?

Estou tentando criar lembranças novas, porque os cartões se perdem a cada novo dia. São noites em claro que perco a cada segundo. Até quando? O carro não existe mais. Nem aquele segundo frio e mudo, sem voz. Não há sono durante a tarde sobre a seda. Nem a mesa posta ao lado dos edredons, colchas, fronhas... retalhos?

Passou! As memórias são novas canções. Incluindo você. Elas estão sendo você. O cão morreu? A casa mudou? O bar fechou? Teu tio findou de vez as alternativas de mudança?

Sei lá! Não sei! A rua está tranquila? Porque sei que a de trás, nem tanto. Sei de um monte de coisas que invento agora. São várias lembranças que correm pela tela, e nela encontro você. Viu, como penso?

Lembro da pizza fria. A noite, o medo do desconhecido. O grito. A risada. Conjunta! Lembro das viagens. Lembra também?! Quanto sofrimento a cada nova despedida, lembrei. E dói ainda. Quando lembro, dói por tudo que foi, o que penso que foi e o que realmente aconteceu.

Mas a pista está vazia. Corre de madrugada. De um lado para o outro.

Calei um monte de verdades e preservei você. Para quê?

Vejo filmes. Um milhão deles. Sinto fome. Sinto dor quando lembro. É tão intenso como respirar. Na mesma proporção. Dói. Eu odeio futebol.

Não tenho interesse em sinuca. Fiz química. Você soube. Não beijou. Quis beijar. Teu encanto de olhos fechados. Minhas respostas para você.

Disse a merda do sim. Caramba. Você disse sim! Eu disse também. Até comemorei com novas ideias transantes a noite. Sou adulta. As vezes menina. Não uso pó. Além de diversos antidepressivos que larguei. Larguei tudo! Isso parece com você.

Transformei seus achados em lixo. Desculpa! Perdi todas as histórias e fotografias. Eu desisti. Depois continuei. Um milhão de vezes. Resisti.

Aliança. Ainda guardo. Mantenho. Círculo, né? Perfeito, sem início ou fim. Círculo... Guarda seu cão. E os filhotes? Vi sua vó falecer. Mas não avisei. Rezei. Sou espiritualista agora. Mas lembro que já era há algum tempo.

Ando bastante. De trem. A pé. BRT. Carro. Moto não. Não faço questão. Ando na lua. Sempre! Compreende isso, não é? 6 horas ininterruptas. 7 anos? 8, talvez? Telefone não chama mais. Troquei. Você não sabe, mas foi. Perdi a linha. E a promoção.

Continuo escrevendo um monte de besteiras em resposta a você. E sigo um monte de outras todos os dias. Eu estou crescendo e não sei até quando. A gente cresce e não percebe. Não tem troca. Nem escambo. E nem cacete algum. Não há moeda de mais valia, não. Me ensina antes de acabar com um adeus. Grita o "até logo". "Vejo você!" Porque as coisas estão indo longe demais. E antes que perceba, crueldade a sua. Cantar uma canção que não é de verdade.

Não faz sentido. A igreja continua lá. As ruas. A casa. O sofá. E todos os elementos de uma casa nova. Eu pensei que não doeria. Caramba! Sinto falta dos móveis da sala que pensamos juntos criar. É o que mais dói. E os amigos que fizemos. E os filmes que vimos juntos. E as músicas que gritamos. A banda que seguíamos. Acordei!

Lembrei do hospital. Das crises renais. Da espera angustiante. Do vinho quente e barato. Da praça. De um monte de coisas e que ligam você a tudo que sou. Lembrei dos becos. Do Porto. Mas isso já citei. Do tarot. Do tempo que pediu. Lembra que doeu? Lembro da barba. Não do cheiro. Lembro do sufoco. Da sua mãe. Do seu pai. Da noite de Natal. Lembro da troca de presentes. De um emaranhado de laços que viraram nós. Nós e nós. Nós que não desatam sós. Passou.

Lembrei de um monte de coisas que você não lembra. Juro! E diria muitas outras coisas mais. Mas não me sujeito a lembrar e só lembrar. E por isso só, não quero. Resisto de novo. Sou fiel e leal a mim. A você eu fui. Já suas mentiras... sei não! Nada é tão justo assim. Mentiras... mentiu? Das viagens que fez: na sua cabeça, outras ruas, outras cidades, outros estados, outro país. PAÍS! Fui também para lá.

Perdi de novo. Amigo. Namorado. Noivo. Homem. Esposo. Uma viuvez que nem existiu. Divórcio que partiu. Casamento. Casou(ei).

Eu não quero lembrar de um milhão de novas notas. Mas lembro. Todos os dias? Talvez. Não sei. E você? Será que você sabe o que eu sei no meio das linhas acima o que tanto tentei escrever... mas não escrevi. Deixo você pensar. Deixo você gritar aí dentro. Deixo você partir, mas sabendo. Tempo algum nasce para desfazer o que é eterno. Seja! Esteja e não mais só!

~Lenir

Tatiana Marques (Tath)
Enviado por Tatiana Marques (Tath) em 07/11/2016
Reeditado em 03/12/2017
Código do texto: T5815835
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