Maya

Tu não sabia, eu não sabia; fazer girar a vida,

com seu montão de estrelas e oceano.

-Ferreira Gular-

[...] O que fizemos de nossas vidas, amigo? Seguimos caminhos diferentes e isso até que é algo normal, eu entendo. Mas é que havia tanto brilho em nossos olhos... esperávamos tanto desta vida, pensamos até que chegaria nossa vez. Por falar em nossos olhos, os meus ainda estão abertos, meio sem vida, eu acho, mas abertos.

Olha, meu amigo, naquela época éramos crianças, fazíamos alguns planos juntos, você dizia que queria viajar por aí, conhecer o mundo. Eu, desde aquele tempo que já não sabia muito bem como prosseguir, mas lembro que também havia sonhos em mim, vez em quando ainda lembro de alguns deles. E que tolice a minha. E que tolice a nossa. Quando somos pequenos o mundo parece ser tão grande, e mesmo assim, não temos medo dele. O medo nasce quando nos deparamos com a certeza de que ele realmente é maior que nós, ai eu vejo que não era o mundo que parecia grande demais para meus olhos pequenos, na verdade meus olhinhos que eram grandes demais. Eles conseguiam encolher o mundo.

Eu não sou os estudos que tive até hoje, não sou o trabalho inútil que fiz, também não sou e nunca serei os meus gostos musicais, literários, culinários, cinematográficos e toda essa merda que adquirimos em vida. Não posso ser definido por nada que já existia antes de minha existência, pois tudo isso muda conforme o andar do tempo. Talvez eu seja minhas memórias, apenas isso. acho que minhas experiências são as únicas coisas concretas e de fato significantes em minha vida. Porém, não estarei aqui para dizer o que fui após encerrar minha jornada, isso ficará nas mãos de outros. Mas então quem eu sou? Mas então o que eu serei? A vida é tão dura conosco que não podemos nem mesmo saber essas coisas a nosso respeito. Viver em busca dos sonhos para morrer na metade de tudo, depois, ser tido como qualquer coisa contraria daquilo que buscamos ser a vida inteira. Nunca saberei o que tu pensaria disso, mas eu enxergo tudo isso como uma enorme ilusão, sim, o discurso da vida não passa de uma ilusão. Uma piada de muito mal gosto, um deboche com uma existência tão pequena e vazia como a nossa.

Amigo, o que fizemos de nossas vidas? Tudo me parece tão sem sentido agora, tão sujo e vazio... Sei que você diria que isso é besteira minha, mas eu daria minha vida para ir junto contigo, você também chamaria de desistência, eu?, eu chamaria de apenas-vi-que-não-vale-a-pena. No final deixaremos nossos corpos jogados por aí, não levaremos absolutamente nada conosco e o que sobrar de nós nos outros, se perderá logo que chegar a vez deles. Às vezes acho que o mundo nunca esperou nada de nós dois, ficou por nossa conta toda essa ilusão de que podíamos - ilusão, acho que é isso que os orientais chamam de Maya. Havia muito, muito brilho em nossos olhos, amigo. Por falar em nossos olhos, os meus ainda estão abertos, meio sem vida, eu acho, mas abertos. Os teus? Bom, eles já não se abrem mais. Adormeceram, enfim...

- Texto comemorativo ao meu primeiro ano no Recanto, que se completa amanhã. Obrigado por todos os comentários que recebi, até mesmo nos textos que já apaguei..., esse espaço me mudou, e eu agradeço.-

(Um abraço especial e um muito obrigado a "Belle vic" - a primeira que me fez sentir que valia a pena escrever -, a "Fiodor" - cara, tu é fantástico -, e a Jackeline Barros, Simone Bellator, Paulo, Fernando Beca, Paulinha, Barbara, Raquel Ordones, Joalice Amorim, Yeye Braga e Fernando Amaro, Drica Barreto, obrigado por acompanharem meus textos e contribuírem com minha escrita, mesmo sem saberem.)

Um Rapaz Meio Estranho
Enviado por Um Rapaz Meio Estranho em 11/11/2016
Reeditado em 12/02/2018
Código do texto: T5820597
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