No porto.. quando o navio já partiu.

Um dia tive certeza de que ele não mais viria. Dias, dias, dias enormes.. Nada. Nem uma ligação, um email, um sinal de fogo... nada. E eu nem tive a oportunidade de perguntar qual foi a coisa tão errada que eu fiz, qual foi a frase estúpida que eu proferi, certamente sem medir as consequências. Eu nem tive como saber se ele ao menos chegou a gostar de mim.. ou se eram somente palavras. Palavras-verso, bordadas no sonho de uma menina mimada... que já deixou de ser menina há tempos.

Eu não me conformei. Não me coformei, porque depois de muito tempo eu voltava a sonhar com um homem; voltava a querer um homem na minha vida. Tentei, humanamente, afastar meu medo de matrimônio... tentei, humanamente, afastar meu medo de gostar, de querer, e sobretudo, medo de não dar certo. Estava sumariamente cansada de não dar certo. Estou...

Reli as últimas cartas... Revi a conversa seca... me senti menor ainda

que um pensamento temporário. Percebi.. que não voltaria. Podia não sofrer com isso.. mas resolvi não sufocar. Eu já estava suficientemente sufocada pela saudade, pela distância geográfica, pela decepção... Pela tristeza. Eu já estava sufocada por ter perdido meu orgulho de mulher; pela minha incompetência em conquistar a confiança de um homem. Eu não sabia de nada... Nem dos seus pensamentos de mundo, de vida, nem se dormia do lado esquerdo ou direito da cama.. se trabalhava ou estudava.. quantos anos tinha. Não tinha, mesmo, o direito de querer estar nua diante dele. despida de pudores ou de detalhes sobre as minhas verdades escolhidas.

Ele se foi. Se foi e não há nada que eu possa fazer pra mudar isso. E ele sabe que diante de toda essa indiferença eu vou acabar indo embora... Talvez eu desista mesmo. Não é fácil conviver com o silêncio... nem com os meus fantasmas antigos. Ele se foi, e eu nem pude fazer uma cena ridícula, pedindo que ele ficasse. Só que agora não adianta ficar acenando num porto, quando o navio já partiu....

Há tantas mulheres que se apaixonam por um ser etéreo e volátil... Há tantas mulheres... Eu sou só.. uma. Só. Mais uma....