Para a minha filha tão distante...

Fechei a porta do quarto para não ver o vazio que ficou dentro dele... passava pelo corredor do apartamento e via a porta fechada, mas sabia que ali ainda tinha vestígios seus... aos poucos fui doando os móveis, a estante os livros e tudo o que tinha ali, ficaram apenas o computador, um espelho lindo com a moldura cor de marfim que agora parecem sem vida...

O guarda roupa do seu closet ainda está cheio de pertences seus... são roupas , livros e aquele monte de baboseiras que você colecionava e eu odiava tanto, hoje não mais... apenas olho as fotos da sua infância e as recordações da sua juventude e sorrio em lembrar o quanto você era bobinha e infantilizada...

Agora sei que não vai voltar mais e que a sua ausência é para sempre... então me enchi de coragem e comecei a tirar o resto dos pertences seus... estou me dando coragem em ocupar o seu closet e o seu espaço agora com pertences meus, depois de tantos anos...

Hoje abri as portas do seu quarto e escancarei seu guarda roupa tirando tudo o que estava lá, sentei na poltrona e chorei por algum tempo sem coragem de começar... encaixotei suas lembranças, seus jogos, e doei suas roupas que ainda tinham o seu cheiro... guardei todas as suas fotos junto com as minhas e comecei a triste jornada de pendurar minhas roupas e preencher suas gavetas com o que era meu.

Deixei aberta aquelas persianas rosas que você tanto gostava e acrescentei um sofá branco formando uma gota que até parecia uma grande lágrima, tentando preencher um pouco do espaço vazio naquele quarto, chorei baixinho outra vez...

Depois saí, apaguei as luzes e voltei a fechar a porta, tive medo de deixá la aberta e o restinho do seu cheiro sair de lá para sempre... parece que sua sombra ainda persiste em ficar ali, vou criar coragem e retornar amanhã concluindo o que comecei... agora sei que você está em outro lugar, outro país e sua presença física não está mais aqui, por mais que você tenha ido embora, você ficou... sua imagem ficou...

Não é fácil lidar com o vazio que ficou das suas peraltices, e das birras de filha caçula mimada, lembranças daqueles seus ataques de risos incontroláveis e que sempre acabava me envolvendo e eu ria junto. Agora vejo o seu sorriso com asas querendo voar, vejo você no face time com os cabelos esvoaçantes voltando do trabalho... vejo você a noite fazendo o jantar e falando comigo enquanto abre as gavetas e corta os legumes, vejo você sempre na hora que a saudade aperta, sei que é só te chamar na tela que você aparece, mas é só a imagem... não tem calor não tem cheiro ... Agora só me resta todos os dias te dar um abraço sem abraço...

Walquiria
Enviado por Walquiria em 10/02/2017
Reeditado em 23/08/2019
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