Agora quero que atenda

Foi sem querer, mas liguei pra você. Liguei enquanto dava zoom naquela sua foto de perfil, enquanto pensava no quanto sou bobo por deixá-la aguardando. E, ao cancelar às pressas, reservei mil possíveis respostas para as perguntas que inevitavelmente viriam, mas nunca vieram.

Não foi de propósito, mas liguei pra você, e estaria preparado se atendesse. Preparado pra iniciar qualquer tipo de conversa, porque contigo tenho assunto fácil. Sabia que existe uma família de mafiosos muitíssimo poderosa com o seu sobrenome? Sabia que o feriado dessa semana é em homenagem ao São José Operário, santo padroeiro dos trabalhadores? Sabia que você fica linda de coque e saia rodada?

Eu poderia substituir o alô pelo refrão da música que escolhi para lembrar de nós dois. Poderia fazer silêncio até que você soltasse um daqueles sorrisos de “para, amor!”, porque, mesmo sem ver, sei qual é. Eu poderia arranhar um francês fajuto e dizer “Bonjour, mon petit.”. Poderia recitar um dos poemas que você gosta. Mas você não atendeu, e tá tudo bem.

Acho que nós conversaríamos mesmo que eu não tivesse nada de interessante pra dizer. Na verdade, você nunca me decepciona. Se eu ligasse e ficasse sem graça, cê daria um jeito. Porque sua voz me acalma, seu jeito me alegra e a falação que a gente arruma sempre me deixa tranquilo.

Pensando bem, gostaria que você tivesse atendido. Só pra dizer que te acho o máximo, que você pode contar comigo, que eu tenho uma lista enorme de coisas pra fazermos juntos e que eu te amo. Só pra dizer que não importa quantos textos eu escreva e quantas mensagens nós troquemos, sempre preferirei ouvir sua voz.

Daqui a pouco eu ligo de novo. E agora quero que me atenda, porque tô indo te ver. Porque não quero que esperemos nem um pouco mais.